O Museu Histórico Nacional, no centro do Rio de Janeiro, será a primeira instituição do País a ter um busto hiper-realista do imperador d. Pedro I. A escultura, que está sendo produzida por impressora 3D com base em reconstituição científica feita em computador da face real do monarca, deverá ficar pronta até o início de setembro.

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Para produzir a imagem base, o designer Cicero Moraes partiu de uma foto do crânio do imperador obtida em 2012, quando a arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel realizou inédita exumação dos restos mortais da família imperial, sepultada na cripta do Ipiranga, na zona sul paulistana – trabalho que resultou em estudo pela Universidade de São Paulo (USP).

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Divulgada em 22 de abril, a imagem revelou um imperador – o primeiro do Brasil – muito menos garboso do que aquele construído em 200 anos de cartilhas escolares, pinturas oficiais e imaginário popular. Ele tinha feições rústicas e uma deformidade no nariz, que indica que houve uma fratura, em vida, não tratada corretamente – que acabaria cicatrizando de forma irregular.

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E foi graças a um empurrãozinho da Wikipédia, a enciclopédia colaborativa online, que o trabalho está se transformando em uma impressão 3D. Isso porque Moraes é parceiro da Wiki Educação Brasil, organização que busca melhorar o conteúdo da enciclopédia com a incorporação, em seus artigos, de conteúdos de bibliotecas, museus e outras instituições.

“Ao saber desse novo projeto desenvolvido por ele, como de costume, tratamos de organizar as informações e referências para a publicação deste material raro e único na Wikipédia”, afirma o mestre em Informática Rodrigo Padula de Oliveira, coordenador de projetos e parcerias da organização Wiki Educação Brasil.

Ele pensou que uma obra dessa dimensão merecia também um anteparo no mundo físico. E procurou, pessoalmente, o diretor do Museu Histórico Nacional, o historiador Paulo Knauss de Mendonça. “Como esse projeto desenvolvido é sério e com embasamento científico, julgamos ser de extrema relevância ter o produto final exibido em um importante museu nacional.”

O Museu Histórico Nacional topou e agora aguarda a conclusão da obra para definir onde ficará a escultura. “Na sua exposição de longa duração, o museu possui um módulo expositivo sobre a construção do Estado Nacional, que aborda a história da Independência e do Império no Brasil, no qual podemos ver diferentes retratos de d. Pedro I. Esse módulo pode vir a ser o espaço adequado para a obra de reconstituição do busto”, informou a administração do museu, por meio de nota.

O advogado José Luís Lira, que adquiriu os direitos de uma imagem do crânio, concordou. “Ali estão gravuras, vestimentas de membros da Família Imperial – um dos tronos de d. Pedro II, busto do nosso segundo imperador, entre outras peças valiosas”, diz.

Surpresa

Acostumado a trabalhar sempre com imagens digitais, Moraes não nega que ficou um tanto surpreso com a ideia de construir uma peça de um museu físico. O formato, diz, permite uma abordagem diferente em relação à arte digital. “O busto está em tamanho real e isso possibilita ao visitante mirar a figura histórica à altura dos olhos e ter uma ideia de como

poderia ser fitá-la em vida”, avalia. “É um trabalho feito a muitas mãos, uma oportunidade de criar algo em grupo e dar um valor único à peça.”

A partir dos arquivos feitos por Moraes, a empresa dOne 3D, de Ribeirão Preto, imprimiu a face em uma impressora 3D. A máquina demorou 75 horas para concluir o busto, que ficou com 40 centímetros de altura. “Há tecnologias diferentes de impressão 3D para aplicações diversas. Hoje já é possível imprimir com resinas, metais, gesso, cerâmica e muitos outros materiais. No caso da reconstrução de d. Pedro, usamos uma impressora de filamento, que funciona derretendo um plástico e empilhando o mesmo, camada por camada”, explica Ricardo Kimura, um dos diretores da dOne 3D.

Mas esse material ainda não será revelado ao público. Porque antes, em um processo que deve ser concluído até o fim de agosto, uma artista plástica vai pigmentar o busto “É um processo com várias camadas de tinta e requer boa secagem de uma camada para a outra, por isso planejamos a entrega para a segunda quinzena de agosto”, diz a artista Mari Bueno. A preocupação com a fidedignidade da figura histórica deve ser a tônica do trabalho. “Partimos embasados por estudos e discussões sobre os detalhes juntamente com toda a equipe envolvida no processo de reconstrução. É uma peça artística, terá características das técnicas que trabalho, mas também buscaremos bom resultado através de elementos minuciosamente analisados.”

Família

Toda a reconstituição facial, seja em duas dimensões, seja agora em 3D, teve a autorização da Casa Imperial do Brasil. As conversas com o tetraneto de d. Pedro I, Bertrand de Orleans e Bragança, vinham ocorrendo desde 2015.

“Considero o trabalho muito bem feito. Mas a versão final, bom, o cabelo poderia ter ficado menos desgrenhado. E a fisionomia do imperador poderia ter ficado mais sofrida, realçando as viagens e as lutas de toda a sua vida, uma vida não muito longa, mas cheia de atividades e batalhas. Isso não aparece na reconstituição”, diz o tetraneto de D. Pedro.

Exumação foi em 2012

A reconstrução facial de d. Pedro I foi possível graças ao estudo da arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel ao longo de 2012 na Universidade de São Paulo (USP). Ela analisou os restos mortais do imperador e de suas duas mulheres, Amélia e Leopoldina, o que foi revelado pelo jornal O Estado de São Paulo.

Moraes já havia reconstruído digitalmente quase 30 figuras históricas – de Santo Antonio de Pádua a ancestrais como o Homem da Lagoa Santa. Com a parceria do advogado e professor José Luís Lira, que comprou os direitos de uma imagem do crânio de d. Pedro, Moraes desenvolveu o 3D. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.