Municípios estão em decadência no País

Do total de 5,7 mil municípios brasileiros, cerca de 4 mil estão com a economia estagnada ou em decadência; aproximadamente 800 vêm crescendo com equilíbrio e somente 200 (capitais, balneários ou municípios industriais) crescem economicamente a uma velocidade muito maior do que o restante.

Os números fazem parte de um estudo que vem sendo realizado desde o início do ano pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com o Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes) para identificar as necessidades de investimentos nas cidades.

Os dados foram apresentados ontem durante o primeiro seminário do projeto Qualicidades, que estuda formas de incentivar o desenvolvimento das cidades brasileiras. O diretor de Planejamento do BNDES, Antônio Barros de Castro, disse que o estudo, que deve estar concluído até julho de 2006, tem como foco o combate à crise urbana e compara experiências bem-sucedidas ou não em diversas cidades. Segundo ele, a partir dessa análise a instituição poderá saber onde direcionar os investimentos.

"Nossa grande premissa é que o poder local é fundamental no enfrentamento da questão urbana. Não vai ser Brasília que vai resolver cada questão urbana", explicou Barros. O coordenador do projeto Qualicidades, Luiz Paulo Vellozo Lucas, defende que as cidades tenham maior autonomia para decidir qual é o melhor caminho para o seu desenvolvimento. Lucas enfatizou que as cidades que têm as melhores taxas de desenvolvimento econômico são as que mais enfrentam problemas urbanos, como favelização, violência e desequilíbrio ambiental. Para estas cidades, conforme explicou, são necessárias políticas públicas e investimentos em habitação, segurança e saneamento básico.

"Já para as cidades com a economia estagnada, cuja maioria depende da agricultura familiar, são necessários programas de financiamento para a irrigação da terra, para a compra de máquinas agrícolas e também para o armazenamento e escoamento da produção", acrescentou Lucas.

Na opinião do subchefe de Assuntos Federativos da Presidência da República, Vicente Trevas, o desenvolvimento dos municípios brasileiros tem que ser compartilhado entre a União, os estados e as prefeituras. "Apesar das desigualdades entre os municípios, temos que compartilhar uma agenda entre os três níveis de governo, para constituir mecanismos de cooperação visando à implementação de políticas públicas, que combatam os problemas urbanos e rurais dos municípios", disse.

Tráfico

Um outro problema das grandes cidades é a violência. De acordo com a inspetora da Polícia Civil Marina Maggessi, ex-coordenadora de Inteligência Policial e do Setor de Investigações da Polícia Interestadual do Rio (Polinter), a falta de opções econômicas para a população empurra um contigente para o tráfico. Ela diz que as facções criminosas que controlam o varejo das drogas, hoje no Rio, são resultado de problemas relativos à infância e a adolescência, não apenas nos bairros pobres da cidade. E explica que, em tempos de desestruturação familiar, as facções são hoje a única referência de sociabilidade para muitos jovens.

"Não é o discurso do problema social. É a realidade que já não tem mais para onde explodir. É preciso remodelar as prisões. O sistema carcerário todo está falido. As pessoas saem de lá piores do que entraram. E isso vai se acumulando dia após dia, mês após mês", diz ele. Para, em seguida, acrescentar: "E há essa infância abandonada, não só na favela, mas também na classe média, o pai e mãe não sabem o que ele está fazendo e onde está indo. São pais separados, há falta de estrutura na família. Há a falência das instituições: da igreja, da escola, da família", diz ela. Marina Maggessi diz que "A falta de perspectiva da juventude é absurda. Se você for considerar os últimos dez anos. Só quem abriu emprego na favela, foi o tráfico".

O promotor Marcio Mothé (do Ministério Público Estadual do Rio) diz que o que se vive hoje no Rio é produto de três fatores: uma infância abandonada, uma adolescência sem limites e uma juventude sem perspectiva. Essas coisas não têm classe social, e estão crescendo. Filhos de classe média, sem a desculpa social do abandono e da necessidade, se tornam bandidos porque se viciam na cocaína e não têm limites, os pais não impõem limites, fazendo com que as grandes cidades em vez de ilhas de prosperidade, tornem-se, na realidade, um centro de problemas e violência.

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