Brasília – Um grupo de mulheres de militares conseguiu chegar ontem à rampa do Palácio do Planalto para fazer um protesto por reajuste salarial para as Forças Armadas. Elas surpreenderam a segurança do Palácio, ao descer de um ônibus de turismo, que parou em frente ao Planalto. A segurança não teve tempo de fazer nada para impedir, a não ser mandar o ônibus ir embora com as poucas manifestantes que ficaram dentro, sob protestos de quem conseguiu descer. As que conseguiram descer reagiram jogando água.
A coordenadora da União Nacional das Esposas dos Militares das Forças Armadas, Ângela Lutz, contou qual foi o plano traçado para enganar a segurança presidencial: ?Nós chegamos no ônibus, abaixadas, em silêncio. Mandamos o motorista parar em frente à rampa e descemos correndo, para que eles não tivessem chance de nos impedir?.
A manifestação durou cerca de 20 minutos. Com tambores, apitos e panelas, as 50 mulheres tentavam chamar a atenção de quem estava dentro do Palácio, para as faixas que exibiam, com os seguintes dizeres: ?Queremos mensalão?, ?Brasil acima de tudo, impeachment já?. Elas também pediam pagamento de 23% de reajuste nos soldos dos militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O reajuste foi prometido pelo governo federal no início deste ano, pelo ex-ministro da Defesa José Viegas.
Ângela Lutz informou que estão em Brasília mais de 100 mulheres de militares da capital federal, Anápolis e de Goiânia. Segundo ela, o objetivo da manifestação foi alcançado. ?Nós já estivemos hoje na Marinha e vamos continuar protestando?, disse. As integrantes do movimento das esposas de militares estão acampadas há 44 dias na Esplanada dos Ministérios.
Audiência na terça-feira com Alencar
Brasília – As mulheres de militares também estiveram ontem em frente à sede do Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, bloqueando por alguns minutos a saída de pessoas, entre elas o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, que havia participado da cerimônia de comemoração do aniversário de 140 anos da Batalha Naval de Riachuelo. Alencar se comprometeu no local em receber na próxima terça-feira a liderança do movimento para negociar as reivindicações.
?Queremos reajuste salarial de 33% para os militares e melhores condições de trabalho para nossos maridos?, afirmou a vice-presidente da Unemfa, Cleonice Crisótomo.
O comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, momentos antes, havia tocado no assunto, cobrando aumento salarial na ordem do dia, que foi lida durante a solenidade. Carvalho fez também referência às dificuldades encontradas pela Marinha.
?As soluções para sanar as dificuldades têm que incluir necessariamente a urgente recuperação do poder aquisitivo da remuneração dos militares e também dos nossos dedicados servidores civis. Elas devem também possibilitar uma melhora dos patamares financeiros dos orçamentos da Força?, disse Carvalho.
Na ordem do dia, o comandante da Marinha reconhece que serão necessários ?recursos de certo porte? para atender às reivindicações dos militares. ?Mas o custo a ser pago pela sociedade brasileira será certamente muito maior caso o País precise e não tenha uma Marinha minimamente aparelhada e pronta.?
Na solenidade também foi lida mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que reconhece a necessidade do reajuste. ?O caminho a percorrer é longo e árduo, pois, como sabemos, o Estado brasileiro foi submetido nesses últimos anos a um verdadeiro desmonte?, diz a nota.