Brasília – Cerca de 80 mulheres de militares se concentraram ontem à tarde na Praça dos Três Poderes e fizeram manifestação cobrando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um reajuste de soldos para os integrantes das Forças Armadas. Elas exibiram faixas, exigiram que o presidente lhes concedesse uma audiência e promoveram um apitaço tão estridente que os índios que estão acampados na Esplanada dos Ministérios se assustaram. Ao final do protesto, uma comissão de mulheres de militares foi recebida por um assessor do gabinete pessoal da Presidência da República.

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Uma das faixas exibidas pelas manifestantes fazia referência à recente declaração do presidente Lula de que estudaria ?com carinho? a reivindicação de reajuste dos soldos: ?Carinho para a primeira-dama. Para as FFAA (Forças Armadas) brasileiras, respeito! Reajuste já!?. Havia também faixas pedindo a valorização da carreira militar e o cumprimento da promessa do ex-ministro da Defesa José Viegas de conceder à categoria um reajuste de 23%. ?Prefiro qualquer regime ao regime da fome?, dizia uma faixa. Outras mulheres exibiam cartazes pedindo reposição salarial mínima de 40% para os militares. Muitas gritavam palavras de ordem, como ?Lula, cadê você??, e refrões, como ?Mulheres unidas jamais serão vencidas?, parafraseando um dos slogans mais utilizados no passado por manifestantes contrários à ditadura militar (?O povo unido jamais será vencido?).

O número de policiais e seguranças em frente ao Palácio do Planalto era superior ao de manifestantes. Algumas das mulheres tentaram chegar até a rampa do palácio, mas policiais militares formaram um cordão, impedindo-lhes a passagem. Uma das mulheres, Ivoni Luzardo, foi contida por um policial, que a agarrou pelo braço.

Ela reclamou, pegou um telefone celular, fez uma ligação e, chorando, passou a conversar com alguém dizendo: ?Agora, é tudo ou nada, bem. Ou você vem defender sua mulher, ou eu chamo toda a tropa?. Depois, dirigindo-se a um dos seguranças do Planalto, ela disse: ?Estou pedindo pacificamente para ele (Lula) nos receber. Você está nos entendendo??. O segurança riu da situação.

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O esquema de segurança do Palácio mobilizou 80 soldados da Polícia Militar, 20 seguranças da Presidência da República e sete carros e peruas e sete motocicletas.

Marinalda Fonseca, mulher de um oficial da Marinha, dizia não acreditar na afirmação de Lula de que estudaria ?com carinho? a reivindicação dos militares: ?Eu acho que a declaração do Lula é demagogia, quero saber o que ele tem contra a família militar?, exaltava-se. Ela disse que o marido ganha R$ 1.600,00 por mês e que isso não dá para pagar as despesas da família (com dois filhos). Patrícia Boechat disse que seu marido ganha R$ 1.700,00 mensais e que a família há sete anos ?depende de empréstimos? para viver.

Amparo legal

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O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, disse, sobre os atos das mulheres dos militares, ontem, em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, que ?as manifestações realizadas dentro da ordem têm amparo legal?.

José Alencar, porém, explicou: ?Mas acho desnecessário porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no último encontro, no Palácio do Planalto, com os representantes dos militares, fez um pronunciamento que nos deixou tranqüilos?, em relação aos salários e ao reaparelhamento das Forças Armadas.

José Alencar voltou a dizer que os militares perderam 35% do rendimento e que requerem apenas a reposição salarial, segundo ele, prejudicada pelas altas taxas de juros. O vice-presidente visitou ontem a Latin America Aero & Defense (LAAD 2005), evento latino-americano do setor aéreo e de defesa, realizado nesta semana no Riocentro.