Quinze mulheres e filhos de controladores militares de vôo fizeram neste sábado (23) um protesto silencioso no terminal de passageiros do aeroporto de Brasília. Visivelmente abatidos, eles divulgaram uma carta aberta ao presidente Lula com relatos de uma série de dramas vividos pelas famílias dos homens que, desde o acidente com um avião da Gol, há quase nove meses, passaram a ter conduta profissional questionada pelo governo e pela opinião pública. "Como vocês querem segurança se nossos maridos não dormem direito, vivem estressados, com depressão e chegam em casa, às vezes, chorando?", reclamou Lúcia Silva, de 28 anos.

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Todos os manifestantes colaram no peito um papel com a frase: "Ditadura na terra e perigo no céu". As mulheres se queixaram das recentes prisões de controladores e do clima de ameaças, segundo elas, enfrentado pelos maridos. Diferentemente das manifestações de mulheres de militares de anos passados, com panelas e apitos, o protesto deste sábado dos parentes dos controladores foi marcado por demonstrações de temor e abatimento.

"Não é com ameaças e prisões que o problema vai ser resolvido", disse Alessandra Soares, 27 anos, filha de um controlador aposentado e mulher de um controlador. "Eu mesma deixarei de viajar para São Paulo na próxima semana por achar que os controladores não têm condições de dar segurança aos passageiros.

Lúcia Silva afirmou que o comando da Aeronáutica não aceita abrir a "caixa preta" do setor. Os controladores, segundo ela, há tempo denunciam a falta de boas condições de trabalho. "É mentira que só 10% da categoria está revoltada", disse. "Na verdade, só 10% tiveram coragem de reclamar.

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Na carta de cinco páginas, as mulheres pedem a desmilitarização plena da área de controle de vôo e a criação de uma agência civil estatal. Elas reclamam que as recentes prisões de controladores só aumentam o caos na área. "O tempo passou, chegou a era da democracia", destaca o documento, que será entregue oficialmente na terça-feira ao presidente Lula, ao comando da Aeronáutica e à comissão parlamentar de inquérito que investiga a crise no setor.

As manifestantes contaram que algumas foram para o aeroporto contra a vontade dos maridos. Na carta, elas dizem que o problema é antigo e que, "infelizmente", foi preciso um acidente aéreo para os dramas dos controladores serem conhecidos pela sociedade e pela opinião pública. "Nossos maridos nem sempre nos têm confidenciado suas queixas ao sistema, mas temos constatado seus conflitos emocionais em meio a um sistema que não foi criado por eles", ressalta a carta. "Um sistema que, ao invés de se adequar às possibilidades do ser humano, está engolindo o ser humano.

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