O Movimento dos Sem-Terra (MST) vai adiar, provavelmente para abril, as grandes ocupações de terra previstas para ocorrer em todo o País em janeiro do próximo ano. A informação foi dada hoje por Jaime Amorim, porta-voz da direção nacional do movimento, que está reunida em Caruaru, no agreste pernambucano, a 130 quilômetros do Recife, para definir a posição da entidade em relação ao governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo Amorim, o prazo da trégua será discutido no encontro, que se encerra na quarta-feira e reúne um total de 60 pessoas – entre dirigentes nacionais e regionais. Na semana passada, um dos coordenadores nacionais do MST, Gilmar Mauro, havia afirmado que uma trégua nas invasões não fazia parte da pauta do encontro, mas Amorim explicou a mudança de planos lembrando que “também o governo Lula dizia que ia fazer a reforma agrária de uma canetada”.

“Vamos sentar para discutir a melhor forma e a melhor tática para ajudar este governo a fazer a tão esperada reforma agrária”, observou, ao reiterar que a “prioridade zero” do movimento é o assentamento imediato das 100 mil famílias de sem-terra acampadas em todo o País. Ele observou que, de acordo com o IBGE, existem 4,8 milhões de famílias sem-terra no Brasil.

A reunião se realiza no assentamento da Fazenda Normandia, de cerca de 520 hectares, na zona rural do município, sem acesso da imprensa. Somente depois do término, na quarta-feira, os dirigentes nacionais João Pedro Stédile, Gilmar Mauro e João Paulo receberão os jornalistas em uma coletiva na sede do MST-PE, quando divulgarão uma nota pública contendo as conclusões do encontro.

Os participantes estão hospedados nos alojamentos do assentamento, onde funciona o Centro de Formação Paulo Freire, com a realização de cursos de capacitação agrícola e formação de líderes. O assentamento tem 41 famílias que criam 500 cabras e iniciou experiências com um aviário de 18 mil aves e com o plantio de mamona. Também foi implantada uma pequena tecelagem, além do cultivo de produtos de subsistência.

Mística

A abertura das discussões ocorreu às 10 horas (hora local) com a apresentação de uma “mística”, com sem-terras carregando um corpo envolvido em lona preta dentro de uma rede, simbolizando o sofrimento dos trabalhadores rurais nordestinos que passaram fome, foram reprimidos e até mortos – pela falta de assistência ou pela repressão na luta pela reforma agrária.

Amorim frisou que o MST não vai tomar nenhuma atitude isolada, independente, pois integra uma organização maior de camponeses, a Via Campesina, de caráter internacional. A versão brasileira da entidade inclui, entre outras organizações, a Comissão Pastoral da Terra e o movimento de mulheres.

Ele observou que a reunião não deveria ter sido do conhecimento da imprensa, por ser interna, ordinária, planejada há muito tempo. “Não nos preocupamos com o interesse da sociedade, mas entendemos a nova expectativa em função do novo momento que estamos vivendo”, observou, lembrando que um dos objetivos do encontro é “fazer a leitura da conjuntura atual, entender o que significa este momento histórico para o MST, para os trabalhadores e para os militantes históricos, quando depois de mais de 20 anos de espera e de luta, um sonho se transformou em realidade”.

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