O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra divulgou na tarde de hoje um manifesto, que será entregue ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A carta diz que o inimigo do MST a partir de 1.º de janeiro não será mais o governo, mas o latifúndio. Gilmar Mauro, líder do MST, disse ainda que eventuais ocupações no governo Lula não devem ser entendidas como uma afronta ao novo presidente. Seria uma afronta ao latifúndio.
Veja na íntegra a nota da direção do MST:
“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se dirige ao povo brasileiro e ao Presidente Lula para falar sobre a situação de nosso país e da luta pela Reforma Agrária. Estamos movidos pela esperança e pela confiança de que é possível um outro Brasil, onde mulheres, homens, crianças, jovens e idosos tenham todos uma vida digna e feliz.
1. O Brasil sofreu oito anos de um modelo econômico neoliberal implementado pelo governo FHC, que só aumentou o sofrimento do povo e trouxe graves prejuízos para quem vive no meio rural, com o aumento da pobreza, da desigualdade, do êxodo, da falta de trabalho e de terra.
2. O povo brasileiro disse não a este modelo econômico e agrícola. Votou maciçamente nas mudanças e elegeu o Presidente Lula. É uma vitória do povo. E uma derrota das elites e de seu projeto.
3. O MST combateu este modelo e por isso fomos perseguidos e injuriados. Pagamos um alto preço com massacres, prisões, mentiras sistemáticas e o descaso com as famílias sem terra. Nós nos engajamos em todas as campanhas eleitorais, desde 1989, para que houvesse mudança. Agora, nos sentimos orgulhosos e vitoriosos por termos elegido o Presidente Lula.
4. O latifúndio e o modelo neoliberal são a causa da fome, do desemprego, da pobreza, do analfabetismo e da falta de desenvolvimento no meio rural.
5. Temos certeza de que é possível derrotar o latifúndio, pela organização do povo e pela vontade política do novo governo. Para nós, o inimigo é o latifúndio, e o governo Lula vai desempenhar um papel fundamental para democratizar a propriedade da terra no Brasil.
6. Precisamos construir um novo modelo agrícola, que priorize o mercado interno, a produção de alimentos e a distribuição de renda. Para isso é necessário valorizar a agricultura familiar e as cooperativas, viabilizar
e descentralizar as agroindústrias. O Estado deve reassumir o seu papel na agricultura e garantir o direito dos agricultores produzirem suas sementes e desenvolverem técnicas adequadas ao meio ambiente e à
qualidade dos alimentos.
7. É necessário garantir a educação pública para toda população do meio rural, como forma de conquista da dignidade e do desenvolvimento.
8. Nosso papel como movimento social é continuar organizando os pobres do campo, conscientizando-os de seus direitos e mobilizando-os para que lutem por mudanças. Manteremos a necessária autonomia em relação ao Estado, mas contribuiremos em tudo o que for possível com o novo governo, para que haja a tão sonhada reforma agrária.
9. Temos a oportunidade, neste momento, de realizar a tarefa histórica de implementar uma verdadeira reforma agrária, para democratizar o acesso à terra e eliminar a fome, o desemprego e as injustiças sociais.
10. Conclamamos a todos os trabalhadores e trabalhadoras, à sociedade brasileira em geral, para que se organizem, se mobilizem, e nos ajudem a fazer a reforma agrária. Um Brasil mais justo e igualitário é possível. A hora é esta!
Caruaru, agreste pernambucano, novembro de 2002.
Coordenação Nacional do MST”