O Movimento dos Sem-Terra (MST) não quer fazer parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas vai cobrar do novo presidente, assim que tomar posse, o assentamento imediato de 100 mil famílias que estão acampadas em todo o Brasil. “Não vamos indicar ninguém para a transição, nem entrar no governo, pois não queremos que na hora de ocupar terras isso seja cobrado”, disse hoje o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues.
Segundo ele, a retomada de assentamentos lidera um programa mínimo que será apresentado ao presidente eleito. “As famílias estão acampadas há muito tempo e esse é um problema social que tem de ser revolvido já.” A agenda será definida durante encontro nacional do MST em novembro. A pauta inclui a liberação de financiamento para 150 mil famílias que estão sem plantar por falta de crédito e a construção de 200 mil moradias no campo. “Os assentamentos vivem uma situação de fome generalizada desde que o atual governo cortou a distribuição de cestas básicas.”
Vitória ideológica
Para Rodrigues, a eleição de Lula representou também uma vitória do MST, mas apenas do ponto de vista ideológico. “É um representante das classes mais oprimidas e pobres, igual a nós, mas isso não é tudo.”
Segundo ele, o novo governo só terá valor se apresentar resultados práticos, como a redistribuição de terras. “Queremos saber do novo presidente como será enfrentada a questão do latifúndio e de concentração de terras no País.” A expectativa é de que o governo promova rapidamente a arrecadação de áreas para serem destinadas à reforma agrária.
Além do financiamento da produção nos assentamentos já existentes, o MST quer programas para fortalecer a agroindústria e a comercialização de produtos, além da retomada de projetos educacionais para assentados. “Temos pequenas indústrias paradas nos assentamentos porque não conseguem vender seus produtos.”
O movimento quer ainda a decretação de moratória para os transgênicos, cujas sementes, segundo Rodrigues, estão sob monopólio de três grupos internacionais. “Não vamos permitir a entrada desses produtos.”
De acordo com Rodrigues, o MST não descarta novas invasões de terra, mas pretende dar um voto de confiança ao novo presidente e esperar a composição do governo e seus passos iniciais. Ele acha que a paz no campo é possível. “Acreditamos que esse vai ser um governo diferente.”
Para o vice-presidente da União Democrática Ruralista (UDR) no Estado de São Paulo, Guilherme Prata, o novo governo não deve se curvar às pressões do MST para não desestabilizar a economia do País. Dirigente de uma entidade que congrega fazendeiros e produtores rurais, Prata disse que a produção agrícola tem garantido a estabilidade da balança comercial. “Se o Lula for tirar a terra de quem produz e dar para quem não produz vai quebrar o Brasil.” Para ele, os assentamentos do MST “são totalmente improdutivos”.
“Dar mais crédito será jogar dinheiro fora. Trabalhamos com juros de 3% ao mês e pagamos, eles trabalham sem juros e não pagam nem o capital.” Para ele, os conflitos fundiários podem aumentar. “Se já era ruim com Fernando Henrique Cardoso, com Lula vai ficar pior.”