Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) chegaram num comboio, na madrugada de sábado (10), na frente da fazenda São Manoel, em Junqueirópolis, oeste do Estado, mas, ao invés de cortar a cerca e entrar na propriedade, como fazem habitualmente, acamparam junto ao portão de entrada. Foi a primeira ação do movimento depois do impacto negativo causado pela depredação da fazenda Santo Henrique, da Cutrale, em Borebi, no centro-oeste paulista. Os 50 sem-terra fazem o controle de quem entra e sai da fazenda, mas não ultrapassaram os limites da propriedade – a cerca permanece intacta.
O coordenador do movimento na região, Wesley Mauch, o “Alemão”, chamou a ação de “ocupação branda” e garantiu que a fórmula tinha sido adotada antes de virem à tona os acontecimentos na Cutrale. Ele contou que outras quatro fazendas da região foram “ocupadas” nos últimos dias na região com o uso da mesma estratégia. São as fazendas Santa Lourdes, também em Junqueirópolis; Santa Clara, em Arco Íris; Santo Antônio e Vista Alegre, ambas no município de Dracena. “Nosso pessoal acampou na entrada, mas não invadiu.” Os grupos são ligados a José Rainha Júnior, o líder dissidente que criou, na Alta Paulista, um MST paralelo. Seus seguidores são filiados, usam a sigla e a bandeira do MST, mas suas ações não são reconhecidas pela direção do movimento.
Mauch explica o estilo “light” adotado pelo grupo alegando que um decreto federal impede a desapropriação de fazendas invadidas. “Nós queremos a desapropriação dessas áreas, pois todas foram consideradas improdutivas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).” Segundo ele, o principal objetivo, de chamar a atenção para a improdutividade e pressionar o órgão federal para desapropriar as terras, é alcançado com a presença ostensiva dos barracos dos sem-terra na entrada da fazenda. Mauch admite, porém, que o movimento tenta evitar a criminalização de suas lideranças, como ocorreu com Rainha. Condenado a dez anos de prisão em decorrência de crimes relacionados com as invasões, e em liberdade provisória, o líder não participa diretamente das ações.
Atualmente, Rainha se empenha em organizar uma anunciada visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Pontal do Paranapanema no próximo dia 30. Está prevista a ida de Lula a um assentamento de Teodoro Sampaio que ele coordena. Numa reunião com lideranças de vários movimentos em Caiuá, ontem, o líder reprovou a depredação da fazenda em Borebi – invadida pelo MST oficial – e se disse preocupado com a repercussão. Ele pediu aos sem-terra para evitar situações de conflito, o que poderia levar o presidente a cancelar a visita.
A tática de acampar na frente das fazendas sem invadi-las também evita as ações de reintegração de posse, já que o esbulho possessório é caracterizado pela invasão. Livra, ainda, os sem-terra das acusações de danificar a propriedade, com os consequentes efeitos na esfera criminal, como ocorreu em Borebi. A Polícia Civil deve pedir nos próximos dias a prisão dos invasores da fazenda da Cutrale, acusando-os dos crimes de formação de quadrilha, esbulho possessório, danos e furto. O levantamento dos prejuízos causados pelos nove dias de invasão deve ser concluído hoje. A União Democrática Ruralista (UDR) vai pedir esta semana à Procuradoria Geral da República que entre com ação para excluir da reforma agrária os sem-terra que participaram de invasões de fazendas.