Cuiabá (AE) – O Ministério Público Federal (MPF) instaurou procedimento administrativo para investigar possíveis irregularidades no tráfego aéreo na região em que ocorreu o acidente com o Boeing 737-800 da Gol e o jato executivo Legacy, da Embraer, dia 29 de setembro, no norte de Mato Grosso.
A decisão do procurador-chefe da Procuradoria da República, Gustavo Nogami, ocorreu no começo do mês após coletar informações da Comissão de Acidentes Aéreos, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Polícia Civil, que apuram as causas do acidente. ?Queremos descobrir se há falhas no controle do espaço aéreo para que medidas sejam tomadas?, disse Gustavo Nogami.
O procurador fez questão de esclarecer que o procedimento administrativo não ocorreu em função das críticas do jornalista americano Joe Sharkey, que estava no Legacy no momento do acidente, para provocar o MPF. Em seu blog, entrevistas e reportagens de sua autoria, Sharkey levanta suspeitas sobre a eficiência do controle do espaço aéreo na Amazônia, dizendo existir ?buracos negros? na região. ?O que existe é um histórico de acidentes, não necessariamente fatais naquela região, e que precisa ser esclarecido?, comentou ele.
Ele esclareceu que o seu pedido é apenas para averiguar as condições reais do tráfego aéreo. As responsabilidades sobre as causas do acidente devem ser esclarecidas em inquérito das Polícias Civil e Federal. ?Não apuro responsabilidade de ninguém. O meu intuito é realizar um diagnóstico de tráfego aéreo brasileiro. E se existir alguma falha, corrigi-la?, afirmou ele.
PF investiga
A Polícia Federal (PF) deve ouvir nos próximos dias os controladores de vôo e supervisores que trabalhavam nas torres de comando aéreo de Brasília, Manaus e São José dos Campos (SP) no dia 29 de setembro. Ontem, o comando da Aeronáutica passou à Polícia Federal a lista dos controladores e supervisores que estavam de serviço no dia do acidente, marcando o início do trabalho conjunto entre os dois órgãos. ?O trabalho vai ser realizado em perfeita sintonia. Em nenhum momento, a Aeronáutica demorou a passar dados ou provocou embaraços?, afirmou o delegado da Polícia Federal, Renato Sayão, referindo-se a notícias sobre supostas dificuldades de relacionamento entre as duas instituições na investigação das causas do acidente.
Sayão esteve na tarde de ontem com o diretor do Departamento de Controle do Espaço Aéreo, tenente-brigadeiro Paulo Roberto Cardoso Vilarinho. O delegado também negou que a Polícia Federal tenha recebido relatório ou dados de uma suposta degravação sobre o vôo 1907.
Informações divulgadas na segunda-feira davam conta de trechos de uma fita que teria sido entregue pela FAB à Polícia Federal, com o diálogo entre o controle de vôo de Brasília e o comandante do Legacy. Na gravação, Joseph Lepore pede autorização ao controlador de vôo para descer de 37 mil para 36 mil pés de altitude. Naquele momento o Legacy estava a 55 quilômetros antes do ponto em que a mudança seria obrigatória. A instrução do controlador teria sido para o piloto do Legacy manter a altitude, a mesma na qual voava o Boeing da Gol.
Dois corpos ainda não foram localizados
Brasília (ABr) – A Polícia Civil do Distrito Federal divulgou o nome de mais três vítimas do acidente com o Boeing 737-800, Gol, todas elas identificadas por meio de teste de DNA. Os resultados do exame saíram segunda-feira à noite, mas os nomes só foram divulgados ontem, depois de as famílias terem sido avisadas. Uma das vítimas estava carbonizada e as outras duas tiveram apenas fragmentos do corpo localizados pelas equipes de busca no local do acidente, no norte do Mato Grosso.
Os três passageiros reconhecidos são: Gilson Iglesias de Azevedo, 46 anos, do Rio de Janeiro; Huenderfidel de Souza Viana, 45 anos, do Espírito Santo; e Vandemir Ferreira de Oliveira, 52 anos, de Minas Gerais. Com a identificação desses passageiros, o número de vítimas do vôo 1907 reconhecidas sobe para 152, de um total de 154 pessoas que estavam a bordo do avião.
As equipes de busca continuam à procura dos dois últimos corpos que ainda não foram localizados. Os militares da Aeronáutica e do Exército contam com a ajuda de cães farejadores. Um cruzamento entre a lista de vítimas reconhecidas e a relação de passageiros e tripulação, divulgada pela Gol, mostra que faltam ser identificados os corpos de Marcelo Paixão Lopes e de Joana Darc.
Em nota distribuída à imprensa, a Polícia Civil informou que das 152 vítimas já identificadas, 149 foram retiradas do Instituto Médico Legal pelos familiares.
