Brasília – O Ministério Público do Trabalho começou ontem a investigar a denúncia de que brasileiros estão sendo contratados como seguranças de instalações militares no Iraque. O anúncio foi feito pela procuradora-geral do Trabalho, Sandra Lia Simón. A princípio, a investigação vai se concentrar em Curitiba, São Paulo e Goiânia, cidades onde já foi constatada a ocorrência do recrutamento de militares e ex-militares brasileiros. A procuradora admitiu até a possibilidade de ser formada uma força-tarefa para investigar o esquema. Segundo ela, o objetivo inicial do Ministério Público é verificar como está se dando o recrutamento, depois os procuradores vão apurar se os contratos que seriam fechados com os brasileiros interessados em trabalhar no Iraque estão de acordo com a legislação trabalhista do Brasil. A procuradora disse que, mesmo que os contratos sejam assinados no exterior, a relação trabalhista teria de estar subordinada às leis brasileiras, já que os indícios apontam que o processo de seleção tem começado no País.
"Se a seleção está sendo feita aqui, já pode ser considerado que o contrato de trabalho se inicia no Brasil e aí tem de obedecer à legislação brasileira", afirmou.
A promessa de bons salários em dólar já atraiu mais de 500 militares brasileiros, da ativa e da reserva, que se candidataram para trabalhar no Iraque como sentinelas de instalações militares. O recrutamento vem sendo feito desde o ano passado, em São Paulo e Goiânia, pelos alemães Frank Salewski e Heiko Seibold. A dupla disse representar no Brasil a empresa americana Inveco International, supostamente sediada na Flórida, mas com braços na Costa Rica e na Suíça. Segundo os alemães, a empresa seria contratada pelas forças americanas para vigiar áreas militares no Iraque. Os salários prometidos para os brasileiros interessados na empreitada variam de US$ 6,5 a US$ 8 mil.
Um ex-militar que se candidatou a uma vaga para o serviço em território iraquiano, contou que aceitou a missão por dinheiro. "Na situação em que eu estou vivendo aqui, qualquer coisa vale à pena. Um dia eu vou ter que morrer mesmo, não é?", disse o ex-militar, que serviu ao Exército por quase um ano e pediu para não ser identificado.
O recrutamento de brasileiros para trabalhar no Iraque vem sendo monitorado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desde o ano passado. O gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado sobre o fato pela direção da agência.