O Ministério Público de São Público (MPE) afirma que o site Cartório Virtual – investigado por venda de dados sigilosos – quebrou o sigilo telefônico de um deputado federal e também de um promotor. As informações foram compradas por clientes do site. A investigação descobriu também que policiais civis do Rio usaram serviços do portal para conseguir informações de suspeitos. Em nenhum dos casos houve autorização da Justiça.

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No site são oferecidos vários serviços, incluindo quebra de sigilo telefônico, e-mail e também WhatsApp. Cada um tem um preço diferente. O deputado federal Domingos Sávio (PSDB-MG) e o promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro são vítimas do Cartório Virtual.

Sávio teve o sigilo telefônico quebrado em junho. O celular é da operadora Vivo e pertence à Câmara dos Deputados. O comprador teve acesso a todas as ligações feitas e recebidas pelo parlamentar. “Como cidadão, me sinto indignado. Isso é nojento, você ter a privacidade invadida de maneira totalmente criminosa. Espero uma atitude firme do Ministério Público e do Judiciário”, afirmou.

O mesmo aconteceu com o promotor Carneiro. “Enquanto nós, promotores de Justiça, passamos por um trâmite às vezes lento para conseguir dados sigilosos pertinentes a investigações, sites criminosos obtêm as mesmas informações de maneira completamente ilegal. É um absurdo.” O promotor disse que a operadora Claro foi informada sobre o caso, mas ainda não o procurou.

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Policiais

Outro fato muito grave, segundo as investigações, foram conversas trocadas entre policiais civis do Rio no chat do site. Quatro foram identificados. Eles trabalham na Delegacia de Homicídios e na 14ª, na 16.ª e na 56ª Delegacia.

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Em uma conversa localizada pela Promotoria, um agente da 17ª Delegacia pede uma pesquisa com todos os bens, imóveis e registros no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) em nome de um investigado. O policial fornece o RG e o CPF do suspeito.

Segundo o promotor Cassio Conserino, o site é o maior exemplo de venda de dados sigilosos em todo o País. “As provas mostram que não há limites. Quebrar o sigilo de um promotor e de um deputado é tão grave quanto fazer o mesmo com qualquer cidadão. Ninguém pode ter a sua vida devassada dessa maneira”, disse.

Conserino afirmou que investiga a participação de funcionários da Vivo e da Claro no esquema criminoso. Segundo ele, não seria possível conseguir os dados ilegais sem a ciência deles. “Há centenas de vítimas que estão sendo identificadas. A Claro já foi notificada, mas não respondeu aos nossos questionamentos. Com a Vivo, faremos o mesmo”, disse.

Em relação aos policiais civis, Conserino afirma que a atitude é suspeita. “Qual o motivo de pedir dados de maneira ilegal dentro de uma investigação?.”

Outro lado

O dono do site Cartório Virtual, o perito Marcelo Lages Ribeiro de Carvalho, afirmou ao Estado que suas atividades são legais e amparadas por juízes. “Toda quebra de sigilo tem uma autorização judicial. Está tudo dentro da lei.”

Ele não quis falar o nome do juiz que autoriza as quebras de sigilo para o site, mas admitiu que presta serviço para policiais e Tribunais de Justiça por todo o País – “e não cobro por isso”. Carvalho negou que o site tenha quebrado o sigilo do parlamentar e do promotor. “Isso não saiu daqui. Eu garanto. No caso do promotor, três funcionários foram demitidos, mas ainda não há conclusão definitiva”, disse, já se contradizendo.

Em nota, a operadora Claro informou que “desconhece as práticas usadas pelo site em questão para obter e comercializar dados confidenciais de diferentes e distintas procedências”. Esclarece também que dispõe de rigorosos sistemas de segurança e monitoramento para garantir a segurança dos clientes. A Vivo afirmou que “somente fornece dados sigilosos de seus clientes mediante ordem judicial” e desconhece a investigação, mas está à disposição do MPE.

A Polícia Civil do Rio disse que não comentaria o caso, pois não foi notificada sobre a investigação da Promotoria. O Tribunal de Justiça de São Paulo informou que não tem nenhum contrato ou convênio com o site e peritos não têm prerrogativa de quebrar sigilos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.