A morte de uma das principais testemunhas contra o crime organizado no Espírito Santo provocou, no início da noite desta segunda-feira, a exoneração do superintendente regional da Polícia Federal no Estado e coordenador da missão especial, delegado Tito Caetano Corrêa. Fontes do Ministério da Justiça informaram que o assassinato do agricultor Manoel Corrêa da Silva Filho – ocorrido na última sexta-feira, duas horas depois de ele ter deixado a Superintendência da Polícia Federal no Estado – provocou a exoneração.
O agricultor foi transferido na sexta-feira da sede da Polícia Federal, em Vila Velha, município da Grande Vitória, para o presídio Monte Líbano, em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado. Ao chegar ao presídio, ele foi torturado até a morte pelos outros presos.
A Polícia Federal ainda trabalha com a hipótese de ele ter sido envenenado antes, ou durante a transferência e pediu a exumação do corpo. O delegado da Polícia Federal Joaquim Borges, que assinou a transferência do preso, também foi afastado nesta sexta-feira, por determinação do ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro.
Dois dias antes de ser morto, Manoel Corrêa prestou depoimento ao Ministério Público Estadual e acusou o coronel reformado da Polícia Militar capixaba Walter Gomes Ferreira de chefiar uma quadrilha de extermínio e de roubo de gado no norte do Espírito Santo. Manoel Corrêa seria encarregado de contratar os pistoleiros para o grupo e depois matá-los, como queima de arquivo.
O agricultor seria ouvido nesta segunda-feira pelos promotores do Grupo de Repressão ao Crime Organizado no Estado, como principal testemunha no inquérito que apura a morte do fazendeiro Antônio Costa Neto, assassinado em Colatina, no ano passado.
O juiz da Vara de Execuções Penais Alexandre Martins elaborou um relatório, apontando contradições na transferência do preso, que foi retirado da Superintendência da PF sem a recomendação de que se tratava de um preso ameaçado e que estava sob proteção especial.
Nesta terça-feira, o governador eleito do Espírito Santo, Paulo Hartung (PSB), vai se reunir com o ministro Paulo de Tarso para entregar o relatório elaborado pelo juiz e pedir a transferência do coronel Ferreira para a Sede da Polícia Federal em Brasília. Ferreira está preso na carceragem do Quartel da Polícia Militar, em Vitória.
“Existem provas de que o coronel, mesmo preso, continua ordenando crimes e mortes no Estado”, declarou Hartung.
O ministro Paulo de Tarso também vai se reunir nesta terça-feira, às 11h, com a vice-presidente da seccional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES), Gladys Bitran, e com o presidente do Conselho Nacional da OAB, Rubens Approbato. Gladys vai pedir “informações acertadas” sobre a morte do advogado Marcelo Denadai, assassinado no dia 15 de abril deste ano e que provocou o pedido de intervenção federal no Estado, “engavetado”, pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro. O assassinato de Manoel Corrêa também será pauta da reunião.