A morte do professor Almir Olímpio Alves foi motivo de críticas à sociedade norte-americana, durante homenagens e celebração religiosa no velório realizado pela manhã de domingo (12) no hall da reitoria da Universidade de Pernambuco (UPE).
“É um país que não dá prioridade ao humanismo”, desabafou a coordenadora do campus da universidade em Nazaré da Mata, onde atuava o professor, que fazia pós-doutorado na Universidade de Binghamton, Estado de Nova York. “Ele foi estudar em uma grande potência que investiu no conhecimento, mas esqueceu de investir na pessoa humana”.
Na mesma linha, os estudantes do Centro Acadêmico de Matemática daquele campus destacaram, em nota, o caos social e a escalada de violência descontrolada nos Estados Unidos – citando a tragédia de Binghamton, onde 13 pessoas – entre elas o pernambucano – foram mortas pelo vietnamita Jiverly Woong, 41 anos, na American Civic Association, no último dia 3.
“Situações como essa nos obrigam a desconfiar da destrutiva e nefasta relação entre a indústria armamentista que encontra forte impulso nos Estados Unidos e é alimentada por um forte comércio aberto, apoiado pelo tráfico”, afirma a nota. O Centro Acadêmico frisou também que a crise econômica e social iniciada naquele país “conduz a um profundo processo de desagregação social em diversos âmbitos na vida em sociedade nos Estados Unidos”.
Faixas enalteciam a vida dedicada ao estudo e à pesquisa e o espírito lutador de Almir Olímpio Alves, 43 anos. Camisetas com fotos suas foram usadas por colegas e familiares. O corpo do professor chegou na noite de sábado ao Aeroporto Internacional dos Guararapes, mas a liberação se deu cinco horas depois, já na madrugada, devido aos procedimentos burocráticos. O corpo chegou em uma caixa de madeira, como mais uma bagagem, o que chocou os amigos e família que o receberam. Ele levou dois tiros no rosto e foi a única das vítimas a reagir, tentando impedir a matança.
Em representação da família, seu irmão Adelmi Olímpio Alves, 39 anos, operador de caixa, falou do orgulho e da honra de ter compartilhado a vida com Almir. Toda a comunidade acadêmica e os amigos o enalteceram como um exemplo de superação e de humildade, de determinação e de um homem que sonhava e trabalhava por um mundo melhor e menos desigual.
O reitor Carlos Calado contou do seu temor de que o professor ficasse no exterior depois do pós-doutorado, mas Almir o tranquilizou: seu comprometimento era com o seu povo. “Ele nunca perdeu a pureza e não traiu suas origens, tanto que escolheu ensinar em Nazaré da Mata”, testemunhou a colega de seminários de Geometria e Topologia, Maria Luiza Leite, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde Almir fez os cursos de graduação, mestrado e doutorado.
Graduado em Matemática no ano passado, em Nazaré da Mata, Alexsander Valença, 29 anos, lembrou com amor do professor rígido, exigente, imparcial, mas que no dia a dia mostrava ser “um menino sonhador”. Ele estimulava seus alunos com sua própria história. De família pobre de agricultores, Almir começou a estudar tarde, aos 10 anos, sempre em escola pública. Foi o único dos cinco irmãos a fazer universidade. Era casado com a também professora de Matemática, Márcia, e deixou um filho, Alan, de 16 anos.