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Mortalidade infantil cresce em 1 de cada 3 cidades paulistas

A morte de crianças voltou a ser um problema. Um terço dos municípios paulistas registrou crescimento na taxa de mortalidade infantil em 2016, ano em que o Estado e o País viram o indicador aumentar pela primeira vez após 25 anos em queda. Levantamento do Estado no Sistema Datasus, base de dados do Ministério da Saúde, mostra que a tendência de alta observada em território nacional se repetiu em 204 das 645 cidades do Estado onde estão os principais hospitais de referência do País.

Entre as cidades com alta está Sorocaba (com avanço da taxa de 10,3 para 10,5 óbitos por cada mil bebês nascidos vivos). Ali, a dona de casa Evanete da Cunha, de 32 anos, perdeu a filha de 2 meses, em Sorocaba, em 2016. Mãe de duas meninas, de 16 e 7 anos, ela teve uma gravidez de risco por causa de um quadro de hipertensão arterial. Apesar do acompanhamento pré-natal, o parto teve de ser antecipado. “Emanuella Sophia nasceu de 27 semanas em 13 de abril.” Ficou internada até sofrer parada cardíaca em julho.

Segundo dados do ministério, a taxa de óbito passou de 10,8 em 2015 para 11,1 em 2016, último disponível. Apesar da alta, o índice paulista segue abaixo do nacional, que passou de 13,3 para 14. “Há dois pilares na determinação da mortalidade infantil: as condições de vida da população e a organização do sistema de saúde. As condições de vida pioraram mesmo nos últimos anos, mas temos de olhar para a desintegração dos serviços de saúde, com problemas desde a organização das equipes de assistência à mulher e à criança até os diferentes níveis de atenção, como o hospitalar, o ambulatorial”, destaca Maria Albertina Santiago Rego, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria e professora da Universidade Federal de Minas (UFMG).

Ainda há diferenças nos dados de São Paulo e do Brasil, quando analisadas as causas das mortes. No País as taxas de óbitos por doenças infecciosas e dos aparelhos digestivo e circulatório foram as que tiveram os maiores aumentos (7,5%, 17,2% e 17,7%). Em São Paulo, doenças do sangue – como anemias – e respiratórias foram as que tiveram a maior alta no número de mortes de crianças de até 1 ano (68,6% e 11,6%).

Presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo, Carmino Antonio de Souza observa que um dos desafios é conter as mortes por questões respiratórios, sobretudo nos meses frios.

Outra questão é estrutural. “A maioria dos municípios é pequena, e não teria condições de ter maternidades, com serviços de neonatalogia adequados, UTI neonatais”. “Municípios como Campinas e outros grandes acabam referenciando os partos de municípios que são da região”, explica ele, secretário de Saúde em Campinas. Cidades de grande porte e com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) fazem parte da lista de avanço da mortalidade, incluindo Campinas, São Paulo, Santos e Sorocaba.

Várzea Paulista, na região de Jundiaí, admite dificuldades. Segundo a prefeitura da cidade, com mais de 100 mil habitantes, foram identificados 25 casos de morte de bebês em 2016, e até 14 poderiam ter sido evitados. “Ciente dessa realidade, o município vem adotando uma série de medidas, como o fortalecimento do pré-natal e a busca por gestantes faltosas.”

A ideia é tentar ajudar pessoas como Jake Mariano, que aos 21 anos teve a primeira filha, Beatriz. A gestação foi “normal”, mas depois se descobriu uma cardiopatia, que a levou à morte em março de 2016. Ela ainda perderia outra filha com cardiopatia no ano seguinte. “Penso em tentar ter outro filho, mas o medo é maior”, diz.

Programas. A Secretaria Estadual da Saúde não comentou as razões da alta de mortalidade. Ressaltou que São Paulo é uma das áreas com menor risco de morte na infância. De 1990 até 2016, disse, houve queda de 65% no indicador. A pasta destacou programas para reduzir o risco de morte para bebês, como o fortalecimento das redes municipais e regionais de saúde, que vêm recebendo R$ 800 milhões para construção e reforma de 166 hospitais e postos de saúde.

Já a Secretaria de Saúde de Sorocaba informou ter programas na área, como o pré-natal para gestantes de alto risco, atendimento odontológico a grávidas e acompanhamento de recém-nascidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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