Morre Stroessner, ex-ditador do Paraguai

Arquivo
Alfredo Stroessner viveu 17 anos exilado em Brasília, apesar dos vários pedidos de extradição.

Brasília (AE e ABr) – O ex-ditador do Paraguai Alfredo Stroessner, de 93 anos, morreu ontem no Hospital Santa Luzia, em Brasília, onde estava internado desde o dia 29 de julho. Stroessner havia sido submetido a uma cirurgia para tratar uma hérnia inguinal, mas seu quadro piorou nos últimos dias devido a uma pneumonia. Terça-feira, o diretor clínico do hospital, Sérgio Tamura, e o coordenador da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Marcelo Maia, haviam declarado que o caso de Stroessner era muito grave e que ele estava na UTI, com insuficiência respiratória.

Exilado no Brasil desde 1989, quando foi derrubado por um golpe militar, o general Stroessner tornou-se uma farpa nas relações Brasil-Paraguai. Embora tivesse vivido os últimos 17 anos de forma discreta em Brasília, com o cuidado de abster-se de qualquer envolvimento direto na vida política paraguaia e, mesmo de conceder entrevistas à imprensa, Stroessner tornou-se alvo de vários pedidos de extradição emitidos por Assunção. Pesam contra ele denúncias de crimes políticos e contra os direitos humanos. O governo brasileiro não acatou nenhum deles.

A ditadura de Stroessner foi alvo de investigações no Brasil e no exterior, especialmente depois de abertos os chamados ?arquivos do terror?, a documentação do período registrada pelo governo paraguaio. Segundo investigações apresentadas em 2000 pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados do Brasil e pelo Centro de Proteção Internacional de Direitos Humanos, ?calcula-se que o número dos desaparecidos durante o governo Stroessner, isto é, de 1954 a 1989, ultrapasse 300 pessoas?. O documento também relaciona a política repressiva e anticomunista paraguaia à articulação e cooperação entre as ditaduras da América do Sul de décadas passadas – conhecida como Operação Condor.

Em fevereiro passado, o ex-ditador tentou retornar a seu país para presenciar o funeral de sua mulher, Elígia Mora. Mas foi inibido pelos pedidos de prisão preventiva emitidos pela Justiça paraguaia contra ele e seu filho, o coronel da Aeronáutica, Gustavo Stroessner Mora, também exilado no Brasil.

Ex-combatente na Guerra do Chaco, entre Bolívia e Paraguai (1932), Stroessner alcançou a patente de general-de-divisão do Exército em 1954, aos 42 anos, e liderou em seguida o golpe que destituiu o então presidente Federico Chávez. Por meio de processos eleitorais questionáveis, foi reeleito presidente do Paraguai por oito vezes sucessivas. Com exceção de Fidel Castro, de Cuba, comandou a mais longa ditadura da América Latina, que durou quase 35 anos.

Presidente que se orgulhava de trabalhar madrugada adentro e de nunca ter tirado férias, Stroessner manteve um governo de estreitas relações com os Estados Unidos, que declinou na administração Ronald Regan, e de tolerância com ex-nazistas.

Três ex-ditadores latinos seguem vivos

Brasília (AE) – A morte do ex-ditador do Paraguai Alfredo Stroessner chamou a atenção para seus três ?colegas? vivos no Cone Sul das Américas. O argentino Jorge Rafael Videla, de 81 anos, o chileno Augusto Pinochet, de 91 anos, e o uruguaio Juan María Bordaberry, de 78 anos, deixaram como legado o violento período das ditaduras militares na América do Sul. No Brasil, todos os cinco comandantes da era militar – os generais Castelo Branco, Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo – estão mortos.

Juntos, esses personagens não se destacaram apenas por governarem sob regimes de exceção, mas também articularem uma sinuosa rede de perseguição a seus oponentes, a chamada Operação Condor.

Todo-poderosos no passado, Videla, Pinochet e Bordaberry atravessam agora a fase final de suas vidas respondendo à Justiça pelos seus governos arbitrários, pelo desaparecimento de pessoas e até mesmo por fraudes e corrupção.

Bordaberry, nos próximos meses, deverá enfrentar um megaprocesso judicial, que reunirá todos os casos de denúncia de violação de direitos humanos durante sua gestão. Augusto Pinochet perdeu sua imunidade em julho passado, por decisão da Suprema Corte do Chile, e deverá responder pelo assassinato de dois guarda-costas do ex-presidente Salvador Allende, a quem depôs no golpe de Estado que liderou em 1973. Já Videla vive há cinco anos em prisão domiciliar e deverá enfrentar novamente o banco dos réus nos próximos meses.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo