O professor emérito de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Nogueira Neto, um dos patronos do ambientalismo no País, morreu nesta segunda-feira, 25, aos 96 anos.
Secretário especial de Meio Ambiente entre 1973 e 1985, em um órgão criado pelo governo militar que seria o embrião do Ministério do Meio Ambiente, Nogueira Neto foi responsável por introduzir no País a agenda da conservação da natureza, criando 26 estações ecológicas e áreas de proteção ambiental (APAs), em um total de 3,2 milhões de hectares protegidos, em uma época em que o discurso oficial era desenvolvimentista e pregava o avanço, em especial sobre a Amazônia.
Foi com ele que se criou a primeira versão da Estação Ecológica da Jureia (SP), ainda sob o governo federal, antes de virar estadual, e a do Jari, na Amazônia. Nogueira Neto também deu origem a alguns marcos regulatórios, como a Política do Meio Ambiente, de 1981, que criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente. Ainda na década de 1980 foi um dos dois únicos representantes da América do Sul na Comissão Brundtland, da Organização das Nações Unidas (ONU), onde foi cunhado o conceito de desenvolvimento sustentável.
Com formação em Direito e História Natural, o pesquisador, que criaria o Departamento de Ecologia da USP, iniciou sua carreira na área investigando abelhas sem ferrão, após ganhar uma colmeia do sogro. “Ele entendeu qual era o problema científico intocado que estava naquele material”, contou o zoólogo e amigo Paulo Vanzolini (1924-2013) na ocasião em que Nogueira-Neto foi agraciado com o Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação em 2005. A distinção é concedida desde 1997 pelo Estado e pelo Centro de Integração Empresa Escola (Ciee).
Em seu discurso de agradecimento, Nogueira Neto contou que, para lidar com os freios impostos pelos militares, sempre se valeu da estratégia de muita conversa e trabalho de convencimento. Foi com essa política que ele conseguiu se contrapor ao programa nuclear do regime militar e ainda proteger a Jureia. “Um dia me chamaram no Palácio do Planalto e falaram que tinham uma boa notícia: ‘Vamos fazer oito usinas e cada uma vai ser estabelecida dentro de uma estação ecológica’. Aí pus a mão na cabeça, né? E disse a eles que era contra, mas eles não desistiram. (….) Hoje nós temos a Estação Ecológica da Jureia, que é a joia da coroa em São Paulo em matéria de unidades de conservação. (…) No momento que o Brasil fez as pazes com a Argentina, cancelaram o programa nuclear”, contou.
Quem acompanhou esse trabalho de perto foi José Pedro de Oliveira Costa, primeiro secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e ex-secretário de Biodiversidade do governo Michel Temer. “Foi ele quem me convidou para trabalhar na Jureia, em 1979, e concordou sem pestanejar que não deveríamos sair de lá mesmo depois do decreto que transformou toda aquela área em zona para usinas nucleares.”
Durante a premiação de 2005, o diretor do Estado, Ruy Mesquita (1925-2013) lembrou a importância da atuação do ambientalista na criação de uma consciência ambiental no Brasil. “Sobretudo com suas pesquisas sobre a influência das culturas humanas na natureza e a influência da natureza nos comportamentos humanos, resume ele o que de melhor as novas gerações podem aprender em termos de consciência ambiental”, afirmou.
“Faleceu nosso mais antigo e respeitado ambientalista”, publicou nesta segunda no Instagram o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Clima
Nogueira Neto também foi um dos primeiros no Brasil a falar abertamente sobre o risco das mudanças climáticas. “Ou se controlam as emissões de gás ou teremos problemas seriíssimos daqui para frente, não só com as tempestades.” E dava a receita. “Só há uma maneira prática de parar esse processo, que é plantar floresta, que é capaz de retirar carbono da atmosfera. E o custo do reflorestamento é de quem gera carbono.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.