Foto: Arquivo/O Estado |
Dante de Oliveira: infecção generalizada. continua após a publicidade |
O ex-governador de Mato Grosso Dante de Oliveira, de 54 anos, morreu ontem à noite, em Cuiabá, com infecção generalizada por causa de complicações pulmonares e diabete. Ele fora levado ontem de manhã ao Hospital Jardim Cuiabá, reclamando de fortes dores no peito. Foi diagnosticada uma pneumonia, mas durante o dia o quadro se complicou. Dante foi internado na UTI, mas não resistiu.
No fim da tarde, boletim médico assinado pelos médicos Fabrícia de Assis e Addeon Salan já informava que o quadro era grave. ?O estado de saúde do paciente Dante de Oliveira é grave, infecção generalizada e diabete descompassada?, dizia, acrescentando que estava ?plenamente sedado (coma induzido)? e com respiração artificial. Parentes estavam tentando transferir o ex-governador para um hospital de São Paulo.
Em São Paulo, o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, lamentou a morte. ?É um companheiro que deu nome a uma emenda que mobilizou o País inteiro. A ele, nossa homenagem muito carinhosa. Temos compromisso de reviver seu sonho.? Candidato a deputado federal pelo PSDB nesta eleição, Dante ficou nacionalmente conhecido em 1983. Eleito para o primeiro mandato de deputado federal em 1982, Dante levou para o Congresso uma idéia fixa: apresentar um projeto fixando eleições diretas para presidente. Em menos de um ano, a emenda Dante de Oliveira virou um símbolo de luta pela redemocratização do País, a campanha das Diretas-Já.
Ainda hoje, depois de ter sido por duas vezes prefeito de Cuiabá e governador de Mato Grosso, ele é mais lembrado pela emenda que levou seu nome. ?Não adianta, apesar de tudo o que fiz depois, essa foi a obra política de minha vida?, admitiu há dois anos, nas comemorações dos 20 anos da campanha das Diretas-Já. ?Mas não me queixo. Afinal, tudo o que consegui depois foi conseqüência daquela emenda.
Campanha
A emenda, aliás, poderia chamar-se Sebastião de Oliveira, já que o texto foi redigido pelo pai de Dante, ex-deputado constituinte de 1946 pela UDN. Eram necessárias as assinaturas de 160 deputados e 23 senadores. Dante conta que faltava um senador do Espírito Santo e ele ficou, na véspera da abertura do Congresso, até de madrugada no aeroporto para conseguir o apoio. No dia seguinte, 2 de março, correu à tribuna no início dos trabalhos para apresentar sua emenda. A partir daí o assunto cresceu no Congresso e na opinião pública e mudou, para sempre, a biografia do deputado de Mato Grosso.
Tanto assim que há dois anos Dante lançou o livro Diretas Já – 15 Meses que Abalaram a Ditadura, junto com o ex-deputado Domingos Leonelli, também membro do grupo que apoiou a emenda desde o início. O livro desfila histórias e homenagens a grande figuras do movimento, como Franco Montoro, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola.
Ninguém, no entanto, recebe tantos louros no livro quando Ulysses Guimarães, o ?Senhor Diretas?, como ficou conhecido. Segundo Dante, Ulysses soube esperar o momento certo de colocar a campanha na rua. ?Ele percebeu que o movimento ainda não tinha a união necessária. Só quando ganhou o partido inteiro ele deixou o movimento ganhar as ruas.
Apesar desse reconhecimento e de sua emenda, Dante sempre ressaltou que as diretas não tiveram um dono. ?A população foi a grande referência do movimento e a verdadeira autora das diretas porque derrubou uma ditadura sem um tiro, uma vitrine quebrada ou um carro incendiado?, dizia. ?Hoje podemos olhar para trás e dizer: valeu a pena lutar.