Morreu na noite desta sexta-feira, 14, o ex-ministro da Saúde e diretor-geral do Hospital do Coração (HCor), Adib Jatene, de 85 anos. Ele sofreu um enfarte agudo do miocárdio, o segundo em dois meses, e foi levado às pressas ao HCor, em São Paulo, onde morreu. O médico já havia sofrido um enfarte no dia 22 de setembro, o que motivou uma internação de mais de 30 dias. O velório será realizado na manhã deste sábado no anfiteatro do prédio 130 do HCor, que leva seu nome.

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Nascido em Xapuri, no Acre, Jatene se formou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 1953. Mais tarde, tornou-se professor emérito da mesma faculdade, além de pesquisador de bioengenharia. Por suas contribuições no desenvolvimento de técnicas e instrumentos para procedimentos médicos, tornou-se um dos mais respeitados cirurgiões cardíacos do mundo.Deixa quatro filhos – os também médicos Ieda, Marcelo e Fábio, além da arquiteta Iara – e a mulher, Aurice Biscegli.

Jatene foi um dos pioneiros da cirurgia cardíaca no País. Fez a primeira cirurgia de ponte de safena, em 1968, além de ter criado o primeiro coração-pulmão artificial do Hospital das Clínicas, na década de 1950. Um dos procedimentos que desenvolveu, para corrigir artérias transpostas em recém-nascidos, ficou conhecido mundialmente como Cirurgia de Jatene.

O cardiologista foi bastante influenciado pelo professor Euryclides de Jesus Zerbini – que realizou o primeiro transplante de coração no País, em 1968. Jatene afirmava que pretendia fazer Saúde Pública e voltar para o Acre, mas acabou entrando no grupo de Zerbini e se envolvendo irremediavelmente com a cardiologia.

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Angelo de Paola, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), não esconde a admiração pelo cardiologista. Ele destaca a atuação de Jatene nas principais esferas da Medicina. “A Medicina é uma profissão muito ampla, com muitas habilidades e compromissos. Ele atendeu tudo. O Dr. Adib é um médico que teve uma das melhores e mais belas histórias assistenciais em medicina cardiovascular no País.”

Segundo Paola, Jatene teve importante papel para as associações e sindicatos da área de cardiologia, para os avanços da pesquisa na área cardiovascular e para a saúde pública, por causa de sua atuação como ministro em duas ocasiões. “Ele foi um pesquisador inovador e, como homem público, fez planos importantes. Também formou locais de excelência, como o Instituto Dante Pazzanese.”

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O lado pessoal também é elogiado pelo presidente da SBC. “Ele sempre teve uma capacidade de síntese e uma empolgação impressionantes. É muito difícil falar no melhor médico brasileiro sem pensar no Adib.”

O cardiologista tornou-se ministro da Saúde pela primeira vez durante o governo do ex-presidente Fernando Collor, entre fevereiro e outubro de 1992. Três anos depois, em janeiro de 1995, Jatene foi convidado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso para comandar a pasta da Saúde novamente. Ao assumir o cargo, ele estabeleceu como compromisso combater a corrupção na saúde pública. Também defendia que o governo aumentasse o investimento para o setor. O cardiologista foi um dos principais articuladores da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) durante o governo FHC – tributo destinado ao custeio da saúde pública a princípio e, depois, também da previdência social e da erradicação da pobreza.

Uma de suas marcas durante sua segunda gestão foi o contato direto com os funcionários do Ministério da Saúde. Aos 65 anos, Jatene tinha o hábito de enfrentar a fila do bandejão e costumava tomar café com os servidores para receber informações e sugestões. Apesar de se manter nos holofotes enquanto foi ministro, principalmente por defender publicamente a implementação da CPMF, o cardiologista não se afastou de sua atuação como médico.

O senador Humberto Costa (PT-PE), que foi ministro da Saúde entre 2003 e 2005, classifica Jatene como “um dos mais importantes ministros que o Brasil já teve”. “Ele trouxe o tema do financiamento da saúde com a autoridade de quem conhece a realidade e demonstrou capacidade de polarizar os debates sobre esse tema.”

Costa disse ainda que Jatene, por sua forma humana de lidar com os pacientes, tornou-se referência para os profissionais de saúde. “Ele sempre foi uma pessoa extremamente afável, um humanista, um intelectual. Uma pessoa generosa.”