Moradores do Morro da Providência, no Rio, vão cobrar na Justiça os prejuízos que tiveram com a ocupação do Exército. Eles se reuniram ontem à tarde na Secretaria de Estado de Direitos Humanos para reclamar de supostos abusos cometidos por militares durante as operações no morro, encerradas no último domingo.
Segundo relatos dos moradores, cerca de 100 casas foram perfuradas por tiros, 50 caixas d’água foram destruídas, casas e estabelecimentos foram invadidos e depredados.
"Queremos justiça. Nunca fomos contra a operação desde que os moradores fossem respeitados. Não é porque moramos na favela que somos sinônimo de bandido", afirmou a presidente da associação de moradores do morro, Márcia Regina Alves. Ela disse que foi ameaçada de morte no fim de semana e deixou sua casa, na Providência.
À tarde, o CML negou qualquer abuso e informou que parte dos moradores é influenciada pelo tráfico.
O secretário de Direitos Humanos do RJ, Jorge da Silva, orientou os moradores a personalizarem as denúncias, em vez de fazê-las genericamente. Os casos serão encaminhados para a Defensoria Pública Estadual para que sejam ajuizadas ações civis
É o caso do comerciante Paulo Mariano da Silva, de 25 anos, que já teve a ação preparada pelos defensores. Dono de um bar, ele disse que perdeu dois fliperamas e uma máquina de música (jukebox), avaliadas em R$ 12 mil. "Os militares destruíram os equipamentos, que não eram nem meus, mas alugados" afirmou.
Márcio dos Santos Silva, de 29 anos, estava trabalhando quando sua casa foi invadida. "Eles quebraram geladeira, fogão, televisão. Tudo foi partido pela metade. Acho que eles acreditavam que as armas estavam escondidas ali", contou o rapaz que também perdeu identidade, CPF e certificado de reservista. Os militares exibiram os documentos ao lado da cocaína apreendida no morro e Silva teme ir à delegacia recuperá-los.
A reunião foi convocada pelo secretário. Representantes de todas as favelas ocupadas foram convidadas, mas somente moradores da Providência e da Mangueira apareceram. Não houve relatos de excesso na Mangueira.
Visita
Jorge da Silva disse que quarta-feira vai ao Morro da Providência avaliar de perto os estragos. Ele convidou o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, o ministro Waldir Pires, da Controladoria Geral da União, e o general Domingos Curado, do Comando Militar do Leste (CML), entre outras autoridades, para a visita.
No primeiro dia útil sem as tropas do Exército, as favelas do Rio que passaram a semana passada ocupadas começaram a voltar à vida normal. Os moradores, que andavam assustados com a presença dos soldados se sentem aliviados. O comércio e as escolas voltaram a funcionar normalmente e os veículos de lotação circularam sem serem parados.
O Ministério Público Militar colocou à disposição da população três números de telefones para que os moradores das áreas onde o Exército está fazendo operações possam denunciar eventuais abusos cometidos pelas tropas. As queixas podem ser feitas pelos números (21) 2112 7614, 2112 7620 e 21127642.