Uma família de Belo Horizonte é um retrato do avanço da dengue em Minas Gerais. Dados divulgados nesta quarta-feira, 11, pelo Ministério da Saúde, mostram que, de janeiro até 24 de agosto, foram registrados 1,4 milhão de casos no País. Em Minas Gerais, o índice é de 2,2 mil casos a cada 100 mil habitantes. Todas as cinco pessoas da família que vive na Regional Nordeste da capital mineira tiveram dengue neste ano. E ao mesmo tempo.
“Fui a que levou mais tempo para melhorar, porque não fiquei de repouso. Ficava levando o marido e os filhos para o hospital”, afirma a costureira Rosane de Jesus, de 40 anos. Na família também tiveram dengue o marido de Rosane, Alexandre Alves Costa, de 43 anos, motorista, e os três filhos do casal, Lincoln Alves Costa, 20 anos, Lucas de Jesus Alves, de 16 anos, e Isaque de Jesus Alves, de 12.
Por causa da doença, Alexandre, que trabalha como autônomo, ficou dez dias sem trabalhar. “Em uma situação dessas, a gente fica preocupado de duas maneiras. Com a saúde de todos e com o dinheiro que não entra”, diz o motorista. “O que ajudou foram as cestas básicas doadas pela igreja”, conta Roseane.
A dona de casa afirma que, por cerca de 15 dias, período em que todos pegaram dengue, todos passaram muito mal, com dores de cabeça, nos olhos e vômitos. A família mora em uma casa sem reboco no bairro Concórdia. O foco dos mosquitos que provavelmente picaram os moradores foi identificado em uma calha de casa vizinha.
A regional em que a família mora é a segunda em número de casos de dengue em Belo Horizonte, com 17.754 casos da doença confirmados. A Nordeste fica atrás apenas do Barreiro, com 18.254 casos confirmados, conforme o último boletim da Secretaria Municipal de Saúde, divulgado na última sexta-feira, 6.
A dengue chegou com tudo também para a família da aposentada Ruth de Moura Kneipp, também moradora do Concórdia. “Não sei como peguei. Na minha casa, nunca acharam foco nenhum.” Ela conta que ficou três dias internada. “Fui para o hospital e voltei no mesmo dia. Mas continuei passando mal. Tive que ir novamente, e me internaram”.
Depois de dona Ruth foi a vez da filha, Andrea Kneipp Muradas, de 53 anos, que mora com o marido em uma casa no mesmo terreno que o da mãe. “Enquanto eu estava no hospital minha filha falou: ‘acho que também estou com dengue’. E estava mesmo”, relembra dona Ruth.
Agentes de saúde que percorrem a regional em busca de focos do mosquito Aedes Aegypti afirmam que, mesmo com campanhas de prevenção, ainda são encontrados muitos locais onde é possível o desenvolvimento das larvas.
Os profissionais de saúde se queixam ainda da forma como são tratados por moradores. “E o engraçado é que, na maioria das vezes, quem impede a entrada da gente, reclama da nossa presença, são pessoas de maior poder econômico. Outro dia, achamos um foco em uma piscina coberta por lona”, relata um agente de zoonoses que, nesta quarta-feira, 11, visitava residências da regional.