São Paulo (Das agências) – Militantes petistas receberam com vaias ontem em São Paulo a oficialização do senador José Alencar (PL-MG) como vice candidato na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. O senador do PL foi vaiado durante seu discurso na convenção nacional do PT que formalizou a coligação entre os dois partidos. Militantes do PT, que usavam nariz de palhaço, começaram a gritar: “Lula sim, Alencar não.” Um segurança do partido deu um soco em um dos adolescentes que protestavam, que caiu. Rapidamente, outros seguranças colocaram bandeiras no local, para impedir que a confusão fosse filmada.
O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu o vice de sua chapa, senador José Alencar (PL-MG), vaiado por militantes petistas. Segundo Lula, Alencar está sendo vítima de “preconceito”. O candidato do PT disse que ele também é vítima desse preconceito, “quando coloca uma gravata e vai a um restaurante”. Lula teve sua entrada na convenção anunciada por um locutor de rodeios. Ele chegou de mãos dadas com a mulher Marisa, em meio a uma chuva de estrelas vermelhas de papel laminado.
Lula apresentou Alencar como o futuro vice-presidente do Brasil e pediu aos petistas que levassem a sua força para as ruas, porque a chapa tem tudo para vencer a eleição. Sob a luz de um holofote, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, fez papel de mestre de cerimônias e chamou governadores prefeitos de capitais, senadores e dirigentes do PT. No entanto, a aliança entre os dois partidos correu risco poucas horas antes de formalizada. Na sexta-feira, o diretório nacional do PT aprovou a coligação, mas enfrentou rebeldia de três diretórios contra a direção nacional, dominada pela ala moderada. Os diretórios rebeldes são os de Alagoas, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. Para contornar o problema, a cupula do PT pôs a proposta em votação com o objetivo de obrigar os descontentes a aceitá-la. O resultado foi apertado. A imposição da aliança foi aprovada por 34 votos a favor, 30 contra e 7 abstenções. A reunião, entretanto, teve momentos dramáticos. A senadora Heloisa Helena, pré-candidata ao governo de Alagoas, fez um discurso comovida, no qual disse que aliar-se ao PL no Estado seria o mesmo que juntar-se a ‘colloridos e usineiros’, numa referência ao ex-presidente Fernando Collor e a oligarquia dominante no Nordeste. Ela abandonou a reunião após conhecer o resultado e ameaçou renunciar à sua candidatura ao governo. Ontem, antes do início da convenção, Sônia Hipólito, da Diretório Nacional, afirmava que Heloísa Helena vai renunciar à candidatura, porque não aceita a aliança com o PL. “Esse partido (PL) é o crime organizado”, afirmava.
Apesar de formalizada a coligação, a situação no PT ainda está em ebulição: os Estados deveriam ratificar ontem a diretriz em suas convenções estaduais. Os que não fizeram, podem sofrer intervenções. Quanto aos candidatos rebeldes, eles podem ser cassados e substituídos. Mas as lideranças do partido tentavam encontrar uma saída negociada para o impasse. No PL a aliança também não é assunto pacífico. O presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, descartou qualquer concessão ao PT na coligação com Estados que se recusam a aderir aos liberais. A afirmação foi uma referência à senadora Heloísa Helena (PT-AL) que ameaçou abandonar a disputa ao governo de Alagoas, caso tenha de se coligar com o PL.
Ao chegar ontem à convenção nacional do PT, Costa Neto afirmou que não abre mão da coligação nesses Estados, agravando o racha entre os petistas. Ele diz que o PL já fez concessão em diversos Estados, o que teria reduzido as chances de o partido fazer um bom número de deputados federais. Além de PL e PT, a coligação tem ainda a participação do PC do B, PMN e PCB.