A septuagenária União Nacional dos Estudantes (UNE) não é mais a única entidade nacional que representa os universitários brasileiros. Depois de uma década tentando conquistar o comando da entidade, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) mudou de estratégia e fundou sua própria UNE, a Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL). O nascimento oficial aconteceu no dia 15 de junho, exatamente um mês antes do 51 º Congresso Nacional da UNE, que esse ano será em Brasília e contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura. É a primeira vez desde sua fundação, em 1937, que a UNE ganha uma concorrente.

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Foi na plenária final de um evento com 2 mil estudantes no câmpus da Universidade Federal do Rio de Janeiro que a ANEL desfraldou suas bandeiras: ocupar reitorias em defesa da radicalização da democracia universitária, com eleições diretas para reitor, combater o ProUni – programa federal que oferece isenção fiscal para instituições privadas que oferecerem 10% de vagas para estudantes pobres – e fazer oposição ferrenha e sistemática ao governo.

“A UNE de hoje é chapa-branca e corneteira do governo. Além disso, está burocratizada. O ProUni tira responsabilidade do governo de financiar o ensino. Defendemos a ampliação de vagas nas universidades públicas”, diz Camila Lisboa, estudante da Unicamp e principal liderança da organização. Além do PSTU, o único partido que enviou representantes para o congresso foi o PSOL, de Heloísa Helena. “Algumas correntes do PSOL estão conosco.” Quem mais? “A Liga Estratégia Revolucionária, a Liga Bolchevique Internacionalista, o Coletivo Marxista, o Comitê Anarquista do Ceará, os DCEs da USP, UFMG e Puccamp, além de várias executivas de curso, como Educação Física e Letras”, contabiliza a líder da “nova UNE”.

A cúpula da original reagiu com desdém à novidade. “A ANEL não terá futuro, já que é uma entidade de um partido só (o PSTU)”, diz a presidente, Lucia Stumpf, que é do PCdoB. Pelas suas contas, o congresso da entidade em Brasília vai contar com 10 mil estudantes, sendo 5.250 delegados. “Eles representam 2 milhões de estudantes. Houve eleição para delegados em 92% das universidades brasileiras”, afirma. “A criação da ANEL é lamentável. Fere a história dos 70 anos da UNE, uma entidade unitária reconhecida no mundo inteiro”, afirma Fabiana Costa, presidente do Centro de Memória da Juventude, ONG que cuida da memória do movimento estudantil.

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