Quando entrar no 1.º Tribunal do Júri do Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, na próxima quarta-feira, 1º, “o maior desejo” da publicitária Renata Guimarães Archilla, de 38 anos, é ver o seu pai, Renato Garembeck Archilla, ser condenado por ter planejado a morte dela. Para o Ministério Público Estadual, Renato e o pai dele, Nicolau Archilla Messa – que morreu no ano passado por problemas de saúde – mandaram matar a vítima para não ter de dividir uma herança de família com ela. Renata teve de ir à Justiça para ser reconhecida como filha do acusado.

continua após a publicidade

Em dezembro de 2001, perto do Natal, ela estava parada em um semáforo no Morumbi, na zona sul, quando um homem vestido de Papai Noel se aproximou e atirou várias vezes. Renata foi baleada no rosto e no braço, quando tentou se proteger. O quarto disparo não foi dado, porque a arma falhou. As investigações identificaram o suspeito como sendo o policial militar José Benedito da Silva. Ele foi preso, expulso da PM e, em 2006, condenado a 13 anos de prisão. Sempre negou a participação no crime.

continua após a publicidade

Renata sobreviveu. Depois de oito cirurgias e anos de tratamento psicológico, ela tenta superar os traumas de ter a morte encomendada pelo próprio pai. “Ele nunca me procurou para nada. O único interesse era não me reconhecer como filha.” Hoje, ela é casada e tem dois filhos. Abaixo, veja trechos da entrevista que ela concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo.

continua após a publicidade

Como está sua vida hoje?

Depois de tudo que aconteceu, ainda digo que estou reconstruindo a minha vida. Após o atentado que sofri, passei por momentos muito difíceis e dolorosos, tanto física quanto psicologicamente. O resultado desse julgamento vai servir para virar essa página triste da minha vida.

Você tem certeza da participação do seu pai e do seu avô (falecido) no crime?

Não tenho dúvida nenhuma. Sempre tive certeza do envolvimento dos dois. Eu me lembro de que falei com o delegado ainda no hospital, que os dois tinham participação nessa execução. Tudo motivado pelo fato que a família do meu pai não queria o reconhecimento de paternidade. Aliás, eles nunca aceitaram.

Você ainda se lembra de como tudo aconteceu?

As lembranças são muito claras. Estava parada no semáforo quando, de repente, um homem vestido de Papai Noel passou na frente do carro. Ele me encarou e depois que teve certeza que era eu, veio para cima e começou a atirar. Levei três tiros: um na bochecha, um no braço e outro embaixo do nariz. Pelo retrovisor do carro, eu vi ele se afastar, tirar o disfarce e ir embora.

Ficaram sequelas?

Eu passei por oito cirurgias de reconstrução do rosto. A primeira durou 11 horas e, em seis delas, eu estava sem os dentes. Foi muito doloroso. Uma das piores intervenções foi quando tiraram um projétil da minha mandíbula, mas eu ainda tenho um alojado na coluna e perdi parte da sensibilidade do braço esquerdo. Graças a Deus, sempre tive apoio do meu marido e dos meus filhos, porque pensei em desistir de tudo algumas vezes.

Quinze anos após o crime, o que você pode esperar?

Para mim é como se tivesse acontecido ontem. Só eu sei o quanto tive de ser forte para superar tudo: os traumas, as cirurgias, as ameaças, a indiferença. Eu tenho certeza de que a Justiça fará o seu papel. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.