A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) já esclareceu que a suposta relação entre o larvicida pyriproxifen e a microcefalia não passa de um “mal entendido”, mas, ainda assim, dois Estados optaram por interromper o uso do químico na água potável. O governo do Rio Grande do Sul afirmou que a medida foi tomada “por precaução”. Já o Pará apenas informa que “o produto foi suspenso até segunda ordem”.
O pyriproxifen tem a capacidade de parar o desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti, impedindo que ele chegue à fase adulta e se torne um transmissor de doenças como a dengue, a chikungunya e a zika. Tem sido recomendado desde 2014 pelo Ministério da Saúde “em situações especiais”, ou seja, locais em que há necessidade de armazenamento de água sem a possibilidade de proteção física.
Nesta semana, um relatório da Rede Universitária de Ambiente e Saúde (Reduas), um grupo de médicos e professores argentinos contrários ao uso de agrotóxicos, citou erroneamente uma nota técnica da Abrasco, sugerindo que a substância poderia estar associada à alta de casos de microcefalia – já são mais de 3,8 mil sob investigação no País, segundo boletim epidemiológico mais recente. A entidade brasileira rebateu a informação, dizendo-se mal interpretada.
“Em nenhum momento (a nota) estabelece uma relação de causalidade entre microcefalia e o uso desses venenos, mas indica (…) que não há evidências de que esse programa esteja resolvendo o problema da infestação do mosquito e da incidência das doenças a ele relacionadas. Além disso, gasta os parcos recursos da saúde pública de forma descabida, ao mesmo tempo em que expõe as pessoas a situações de risco por exposição a substâncias químicas ainda não devidamente estudadas”, diz o comunicado.
O Ministério da Saúde garante que o pyriproxifen é seguro, destacando que somente utiliza larvicidas recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e que os produtos passam por um “rigoroso processo de avaliação”, sendo certificados também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com a OMS, o químico não tem ações carcinogênicas ou tóxicas a humanos. O ministério adquire o produto e o repassa aos Estados, mas salienta que os governos têm autonomia para, caso queiram, desenvolver estratégias alternativas de combate ao mosquito.
O governo de Alagoas afirmou que “a gestão estadual analisa o caso”, mas ainda não decidiu suspender o uso do químico. Na Bahia, “há estoque até abril” e a aplicação do larvicida também está garantida. Roraima “não trabalha com a hipótese de descartar o uso do produto”. Outros 10 Estados (CE, MG, ES, GO, MA, MT, PE, PI, PR e RJ) e o Distrito Federal também afirmaram seguir as orientações do Ministério da Saúde.
A Secretaria de Saúde de Pernambuco esclareceu, em nota, que o larvicida também é utilizado no controle de mosquitos e moscas domésticas, “ambos também relacionados a problemas de saúde pública” e relembrou que, “no Recife, responsável pela maior quantidade de casos notificados, prováveis e confirmados de microcefalia, nunca houve uso do pyriproxifen”.
Já no RS, apenas a “hipótese” levantada pela organização argentina de que a substância poderia “potencializar a malformação cerebral causada pelo zika vírus” foi suficiente para suspender temporariamente o larvicida. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a substância era utilizada em “pequena escala”, apenas quando não havia possibilidade de evitar o acúmulo de água nem remover os recipientes, como nos casos de chafarizes e vasos de cimento em cemitérios.
“Nosso foco prioritário tem que ser evitar o criadouro, sem o uso de produtos químicos, dando preferência aos métodos mecânicos”, afirmou o secretário, João Gabbardo. O governo do Pará não deu detalhes sobre a suspensão do uso do produto.