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Mercado concorrido em SP leva escolas internacionais ao interior e ao Nordeste

Com o alto custo e a competição do mercado em São Paulo, grandes escolas internacionais passaram a focar seus investimentos em unidades no interior do País. Em troca das mensalidades 20% acima dos mais caros colégios do Nordeste ou de cidades médias paulistas, elas oferecem não só o ensino bilíngue como também um currículo diferenciado e reconhecido no exterior.

Para especialistas, a crise brasileira até ajuda as redes a se expandirem. Isso porque as escolas prometem formar os filhos da elite para serem “cidadãos do mundo”, com facilidade para cursar faculdade e trabalhar fora do País. Educadores veem com bons olhos os métodos inovadores. Por outro lado, alertam que as redes podem dar segurança aos pais pela solidez da estrutura, mas correm o risco de ter um ensino “pasteurizado”, sem espaço para cultura nacional e regionalismos.

Um exemplo de grande expansão é a rede de escolas canadense Maple Bear. Desde que foi comprada pelo Grupo SEB, do empresário Chaim Zaher, em 2017, o número de unidades dobrou para 140 no País, em um sistema de franquia. Outras 60 estão em fase de implementação, 90% localizadas no interior do País. Uma delas será em Macapá, a última capital em que não havia uma escola da rede.

“No Norte e Nordeste, como muitas vezes não há um colégio americano ou suíço, nossas unidades vão muito bem e acabam se consolidando como a escola internacional do Estado”, diz o CEO da Maple Bear, Arno Krug. O investimento do grupo na expansão foi de R$ 250 milhões.

Um dos diferenciais é o fato de crianças de até 5 anos só terem aulas em inglês na escola. Só no 1º ano do ensino fundamental, elas passam a ter a disciplina de Português e são alfabetizadas nas duas línguas.

A médica Renata Pereira Mauro, de 42 anos, mãe de Tiago, de 6, viajava até a cidade vizinha para que o filho estudasse na Maple Bear. Em 2018, foi inaugurada uma unidade em Vinhedo, no interior de São Paulo, onde mora. “O que mais gosto é a metodologia canadense, que ensina autonomia para as crianças desde pequenas”. Para ela, uma escola internacional era impensável na sua infância no interior, mas muito valorizada agora. “Meu filho hoje se comunica com qualquer um, em qualquer lugar do mundo. Nas viagens, ele se sai até melhor que nós.”

A Red House International School, que inaugurou em 2018 uma grande unidade em Higienópolis, região central de São Paulo, já está com obras adiantadas de uma filial em Recife, com inauguração prevista para 2020. Apesar do mesmo currículo – elaborado na Suíça e com certificação aceita em universidades estrangeiras -, será mais barato estudar em Pernambuco. As mensalidades vão de R$ 3 mil a R$ 4 mil, enquanto em São Paulo chegam a R$ 5,5 mil.

“É possível baixar um pouco para se adaptar à realidade da cidade, mas sou contra um mercado muito expansionista que não pensa em qualidade. Já tiveram pessoas querendo levar a Red House para algumas cidades que não quisemos. Se não tem perfil, não vamos abrir”, diz o diretor-presidente da escola, Michel Lam. Entre o grupo que representa 10% da população com os mais altos salários, Recife é a capital com o segundo maior rendimento médio (R$ 13,6 mil) do Nordeste. Em São Paulo, esse valor é de R$ 16,3 mil, de acordo com o IBGE.

O próximo passo é uma unidade em Jundiaí (SP). Na escola, 70% das aulas são em inglês e 30% em português. Lam gosta de enfatizar que não abre mão de “festas culturais, História e Geografia do Brasil” e de “todo mês tocar o Hino Nacional, mesmo antes da confusão com Bolsonaro”. “Não vou ensinar História dos Estados Unidos ou fazer Halloween, não tem sentido numa escola brasileira.” Ele é filho de Raquel Lam, fundadora da escola de inglês Red Balloon, vendida em 2012 e que também havia passado por expansão. “O movimento das escolas internacionais é parecido com a que aconteceu com as de inglês, no passado também restritas a São Paulo e Rio.”

Crise

Para Fernando Campora, sócio diretor da Cherto Consultoria, que tem clientes da área educacional, o crescimento das escolas internacionais está relacionado ao momento do País. “O fato de ter incerteza no Brasil leva as pessoas que valorizam esse tipo de ensino, e podem pagar a pensar que preparar o filho para o exterior pode ser a solução.” O menor investimento nas universidades públicas nos últimos anos, segundo ele, também influencia. “Somos um país que acreditava que a universidade era muito boa e não era preciso se preocupar com universidades internacionais. Mas isso mudou.”

Campora também explica que o investimento no interior é mais fácil para as redes por causa do menor valor dos aluguéis, salário dos professores e da competição com instituições tradicionais. A Sabis International School, de origem libanesa, por exemplo, vai abrir sua primeira unidade no País em Campinas, em 2021. A rede, com ensino em inglês e currículo internacional com foco em Matemática e Ciência, tem 75 mil alunos em países como Estados Unidos, Alemanha, Paquistão e Panamá.

“Precisávamos de um espaço de 10 mil metros quadrados porque acreditamos que educação precisa ter playgrounds, quadras esportivas, natureza. Para ter isso em São Paulo, cobraria R$ 10 mil por mês”, diz Samir Koukaz, consultor da Sabis, americano que está no Brasil para a implementação da escola. “Nosso foco não são os super-ricos e, sim, o público médio, trabalhador, que quer educação de qualidade.” A mensalidade da ainda não foi definida, mas deve ser em torno de R$ 4 mil.

A administradora Tatiana Faccio, de 44 anos, que mora em Belém, valoriza o fato de seu filho Renato, de 9, receber o mesmo ensino de crianças em São Paulo ou Rio. Ele estuda na Maple Bear, desde que abriu uma unidade na cidade. “Pago mais do que antes, mas me dá a segurança de que ele não vai ter dificuldade se quiser fazer uma faculdade fora.”

O Grupo SEB, dono da Maple, lançou também em 2018 a franquia da Sphere International School, rede que pretende ter 30 escolas nos próximos 5 anos. Já há contratos assinados em São Luís, Brasília e cidades do interior de São Paulo. A Sphere usa um currículo que está em 4 mil instituições nos EUA, focado em eixos e não em disciplinas.

‘Risco é ensino se tornar pasteurizado’

Para a educadora da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello, os pais precisam analisar se a escola forma “habitantes do mundo globalizado e tecnológico”, mas as crianças “perdem a construção autônoma de seus valores”. “Estruturas prontas, pré-formadas, independentes do perfil dos alunos, tendem a funcionar de modo pasteurizado.” Ela diz que, sim, é preciso renovar a escola, mas ensinando a aprender, pensar e sentir. “Acredito na escola que se constrói na relação com alunos e famílias.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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