Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil |
Relator da comissão, Abi-Ackel: documento contraria as expectativas e aponta para existência de "repasses periódicos". continua após a publicidade |
O relator da CPMI do Mensalão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), afirma, em seu relatório apresentado ontem, que foram feitos ?repasses periódicos? a parlamentares na campanha presidencial de 2002 e nas eleições para prefeito em 2004. Contrariando as expectativas, o relatório diz que as investigações revelam que houve recebimento de dinheiro ilícito com periodicidade, ?chame-se isso de mensalão, mensalinho, semanão, quinzenão, ou o que vocês quiserem?.
Brasília – Apesar disso, Abi-Ackel afirma que seria arriscado tomar como provas da existência do mensalão os gráficos de integrantes da CPMI que mostram a coincidência dos repasses com votações de interesse do governo na Câmara. A oposição não gostou do relatório justamente por sugerir que os repasses estão associados ao caixa 2, e não à compra de votos. Isso, diz a oposição, poderia ajudar o deputado José Dirceu (PT-SP). Ele poderia alegar que não pode ter o mandato cassado por comandar um suposto esquema de pagamento a parlamentares, já que a própria CPMI não concluiu pela existência do mensalão.
Em reunião de líderes partidários com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ficou decidido que o prazo para o término da CPMI é meia-noite desta quinta-feira. Até então, havia dúvida se a sessão desta quinta tinha validade, porque inicialmente o entendimento era de que o prazo de encerramento para a CPMI se esgotara na quarta-feira. Agora, integrantes da CPMI buscam a assinatura de pelo menos 171 deputados e 27 senadores para prorrogar as atividades da comissão por mais 30 dias. O presidente da CPMI, senador Amir Lando (PMDB-RO), disse que é um ?aborto cirúrgico? encerrar os trabalhos neste momento. ?É importante que tenhamos esse tempo para produzir um relatório mais substanciado. O relator fez um esforço brutal, até um milagre, no sentido de produzir o relatório às pressas?, afirmou Lando.
A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) acusou o governo de trabalhar contra a CPMI e dificultar que os deputados assinem o pedido de prorrogação. E provocou o relator, afirmando que ele não quer a prorrogação porque é da base aliada. ?Ele não quer a prorrogação porque é governo, eu sou oposição. Os homens do governo não querem a prorrogação. O governo não quer mais nada com CPIs, já tem que agüentar a CPMI dos Correios?, protestou a tucana.
Acordo
No entanto, ao encerrar na noite de ontem a reunião da CPMI do Mensalão, o presidente da comissão, senador Amir Lando, informou que um acordo envolvendo líderes do governo no Senado e na Câmara deverá permitir a prorrogação dos trabalhos por 30 dias. Ele esperava que, até a meia-noite de ontem, fossem recolhidas as assinaturas que faltam para garantir o prolongamento dos trabalhos.
Durante a reunião, em que foi lido o parecer do relator, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), vários parlamentares comentaram o texto. Um deles foi o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), que considerou precipitado o fato de o relator ter concentrado suas conclusões nas eleições presidenciais de 2002, deixando fora os episódios de compra de votos ocorridos em 1997 e 1998.
Abi-Ackel disse que as investigações sobre a compra de votos para a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso foram dificultadas pela falta de novas diligências sobre o caso. Os documentos disponíveis, segundo ele, foram produzidos na época dos fatos. Em resposta ao deputado Fernando Coruja (PPS-SC), o relator explicou que o fato de não ter aderido ao termo ?mensalão? não significa que ele discorde da existência de pagamentos irregulares a deputados.