O presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu como uma ?facada nas costas? o esquema de corrupção no PT e no governo – denominado de ?escândalo do mesalão?. Em entrevista gravada ontem, no Palácio do Planalto, ao programa Fantástico, da Rede Globo, Lula novamente evitou citar nome dos aliados ?traidores? que promoveram o ?mensalão?. ?Não interessa se foi A, B ou C?, afirmou, com certa irritação. ?Todo episódio foi como uma facada nas minhas costas.?
Brasília (AE) – Desde que o escândalo foi divulgado, há seis meses, o governo nunca admitiu a existência do esquema de pagamentos a parlamentares em troca de favores. Ontem, no entanto, Lula repetiu pela primeira vez palavras do principal algoz dos petistas e personagem que detonou a crise, o ex-deputado Roberto Jefferson, cassado no último dia 30. Em depoimento no dia 14 de junho no Conselho de Ética da Câmara, Jefferson relatou que ao contar a Lula sobre o ?mensalão? a reação do presidente foi a de uma ?facada nas costas?. ?As lágrimas (de Lula) desceram dos olhos, ele levantou, me deu um abraço, me mandou embora. E eu sei que de lá para cá (a fonte) secou porque os passarinhos estão todos de biquinho aberto?, completou Jefferson.
Na entrevista ao Fantástico, Lula evitou apontar o ex-ministro José Dirceu como a pessoa a quem acusou de traição durante reunião ministerial na residência da Granja do Torto, em agosto. ?O José Dirceu, a CPI vai mostrar se errou?, ponderou o presidente. Lula avaliou que é preciso esperar a conclusão da CPMI dos Correios para levantar nomes de culpados.
O jornalista Pedro Bial, que fez a entrevista, questionou Lula sobre uma declaração anterior do presidente, de que levaria para o palanque, em 2006, o ex-ministro Dirceu. ?Eu não disse. Eu fui perguntado se o levaria para o palanque?, respondeu Lula. Ainda durante a entrevista, o presidente voltou a criticar a imprensa. ?As coisas boas realizadas pelo governo não aparecem. Eu não digo nem nos anos anteriores, digo só em 2005?, afirmou, citando como exemplo o aumento na geração de empregos, a retomada do crescimento econômico e que 85% dos sindicatos e categorias de trabalhadores conseguiram acordos de reajuste salarial acima da inflação.
As frases do presidente foram ouvidas num período de cinco minutos pelos setoristas dos jornais no Planalto quando a equipe do Fantástico ainda entrevistava o presidente. Dois caminhões de transmissão da TV Globo estavam com as portas abertas do lado de fora do palácio. Assim que perceberam a presença dos repórteres, os produtores decidiram fechar as portas. ?Acabou a festa?, disse um técnico da Globo, fechando a porta de um dos caminhões.
Ao deixar o palácio, Pedro Bial disse que a Globo deverá levar de 37 a 40 minutos da conversa com o presidente, ao ar no próximo domingo, em dois blocos. Bial avaliou que até a fisionomia de Lula estava diferente da primeira vez que entrevistou o presidente, no Palácio do Alvorada. ?Mas ele estava muito afirmativo?, disse. ?Não pareceu desanimado.? Uma pessoa que acompanhou a entrevista relatou que Lula ainda evitou anunciar a candidatura à reeleição. ?Só estou preocupado em governar. Não é hora de decidir sobre isso?, teria dito o presidente. Lula ainda teria defendido as investigações das denúncias de corrupção.
Presidente do BNDES acha viável a reeleição em 2006
Rio (AE) – O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, disse ontem, no Rio, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria se lançar candidato à reeleição na disputa de 2006 para dar continuidade ao trabalho que faz.
Mantega afirmou também que Lula seria reeleito, caso decida disputar o cargo novamente. O presidente do BNDES rebateu declarações recentes do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB) e do governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), sobre a gestão econômica do governo Lula. ?A média de juro real no governo do PSDB foi de 15,6%. A nossa média é de 10,9%. Não estou satisfeito com ela, mas, se tem alguém que não pode falar em juros, é o PSDB?, afirmou.
Mantega também considera que os tucanos não podem acusar a atual gestão de falta de planejamento. Ele lembrou que Serra foi ministro do Planejamento no início do primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. ?O planejamento que ele fez levou à crise de energia, por exemplo?, disse. Mantega afirmou ainda que a execução orçamentária da administração federal em relação a investimentos é melhor que a do governo de São Paulo.
Motoristas pedem aumento
Brasília (AE) – Em clima de feliz Ano-Novo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi surpreendido com uma reclamação nesta semana ao receber os motoristas da Presidência da República para tirar a tradicional fotografia e cumprimentar os funcionários. Os motoristas, terceirizados, resolveram levar para Lula um bilhete bem sugestivo e conciso: ?Presidente, nós ganhamos muito pouco. Ainda nem recebemos as duas parcelas do nosso 13.º salário?.
Lula demonstrou surpresa e disse desconhecer a situação dos motoristas. Mas, preocupado com os funcionários, que passaram o Natal sem o 13.º salário, mandou subordinados resolveram o problema. As parcelas estariam nas contas dos motoristas na noite de quarta-feira. Já o aumento salarial não deverá ocorrer tão cedo.
Cerca de 150 motoristas trabalham na Presidência da República. Eles foram contratados pela empresa Victory, que venceu concorrência para prestar esse tipo de serviço. Os motoristas da empresa não dirigem diretamente para o presidente. Quem dirige os carros usados por Lula são militares.
Cada motorista ganha em média R$ 400 por mês. A empresa argumentou que não pagou o 13.º porque não recebeu do governo em dezembro.
Candidato só com ?plano de vôo?
Brasília – PT e os partidos aliados do governo (PSB e PCdoB) preparam um programa de reeleição para ser apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pacote define metas mínimas nas áreas como social, infra-estrutura e economia.
A pedido de Lula, segundo fonte ligada ao Palácio do Planalto, o programa deve estabelecer objetivos ?realizáveis? para educação, saúde, saneamento, emprego e renda. Outra preocupação do presidente seria em relação ao crescimento do PIB. Ele exige um pacote que permite ao País ter crescimento médio de 5 por cento ao ano.
Somente após a apresentação do que os assessores de Lula chamam de ?plano de vôo? para a reeleição, é que Lula definirá se vai se candidatar.