Medo de grampo emudece telefones de Brasília

O medo de contar segredos tomou conta de políticos e empresários de Brasília. A revelação de grampos de operações da Polícia Federal tem levado até os que aparentemente nada têm a esconder a usar truques e artifícios tecnológicos para fugir do Guardião da PF – o sistema que faz as interceptações. Parlamentares contam como se defendem, mas não querem, por motivos óbvios, ter os nomes revelados.

Um deputado tem usado cinco chips de celular e duas linhas, uma de Brasília e outra da Bahia, para fazer contatos políticos. Outro aderiu ao MSN – sistema de comunicação via computador -, e instalou um programa que criptografa os diálogos. Há os que optaram por dar marcha à ré e deixaram os celulares de lado. Conversas, garantem, só tête-à-tête. Advogados engrossam a lista dos que prometem dar prejuízo às operadoras de telefonia celular. Um deles, recém-contratado por policiais federais investigados, combinou uma corrida de 10 quilômetros no Parque da Cidade para dar informações a um repórter.

Um político do PT conta que a maioria dos deputados e senadores tem fugido do celular ?como o diabo da cruz?. Ele próprio tem três e quase não os usa. Até a divulgação dos grampos, seus celulares não paravam de tocar. Na semana passada, ao receber o jornal O Estado de S. Paulo para uma conversa, não recebeu nenhuma ligação, apesar de os três estarem ligados.

A escuta telefônica sempre foi eficaz contra o crime organizado. O problema é a linha tênue entre combate ao crime e invasão da privacidade do cidadão comum. Para parlamentares, a PF mostrou eficiência com os recentes grampos. Mas há temor de que sejam usados para perseguição política, como fez o Serviço Nacional de Informação (SNI) na ditadura.

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