Médicos do INSS são xingados e agredidos durante o trabalho

Uma pesquisa recém-concluída mostra que quase todos os médicos peritos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), 93%, já foram insultados durante o trabalho. E que 26% foram vítimas de algum tipo de agressão física.

Como os números sugerem, o ofício passa longe do trabalho de um profissional de saúde típico. Os médicos do INSS diariamente examinam pessoas doentes, mas a preocupação não é curá-las.

A tarefa é conceder – ou não – o auxílio-doença, espécie de salário temporário pago pelo governo enquanto a pessoa não pode trabalhar por causa de algum problema de saúde, como um pé quebrado ou uma doença no coração. Física ou verbal, a violência explode quando o benefício não é concedido – em 20% das perícias.

Casos

Em Duque de Caxias (RJ), no mês passado, uma mulher foi presa no posto do INSS depois de atacar uma médica. Segundo o boletim de ocorrência, a segurada já havia tido o benefício negado por dois peritos. Ao ouvir a terceira negativa, trancou-se no consultório e tentou estrangular a médica. Os funcionários tiveram de arrombar a porta para salvá-la.

?Logo vamos ter uma morte?, preocupa-se o presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP), Eduardo Rodrigues de Almeida. O temor fica maior quando se considera que a onda de violência só tem avançado.

Os peritos crêem que a explosão da violência tenha relação com o fim das perícias terceirizadas. Até fevereiro, médicos particulares atendiam em seus próprios consultórios e recebiam do INSS por perícia. De olho no dinheiro, alguns concediam ou mantinham benefícios indevidos para garantir um novo exame mais adiante. Agora só trabalham médicos concursados.

Pesquisa

Para a pesquisa sobre as agressões, a ANMP ouviu 550 dos 3.500 médicos peritos do País. Dos 166 casos relatados, 11 ocorreram em 2004 e 36 foram em 2005. Só nos primeiros cinco meses deste ano, já foram 57.

Reivindicação

Representantes dos peritos se reuniram há um mês com o ministro da Previdência Social, Nelson Machado, e com o presidente do INSS, Valdir Moysés Simão, para pedir segurança no trabalho. Querem, por exemplo, que o resultado da perícia deixe de ser entregue pelo médico e isso passe a ser feito por um funcionário fora do consultório, que a Polícia Federal seja mais atuante diante das denúncias de agressão e que as agências tenham mais seguranças. Também pediram uma campanha para explicar à população o que são a perícia e o auxílio-doença. O governo ficou de estudar os pedidos.

Diante de condições tão precárias de trabalho, o que leva um médico a se tornar perito do INSS? Eles dizem que o principal é a estabilidade de um emprego público – o salário inicial, sem contar as gratificações, é de R$ 3.400.

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