Após o pronto-socorro pediátrico parar as atividades, o atendimento para urgência e emergência de adultos também poderá ser fechado no Hospital Universitário (HU) da Universidade de São Paulo (USP). Por meio de carta, médicos da Divisão Clínica alegam que não haverá funcionários suficientes para atender pacientes no pronto-socorro adulto a partir de dezembro, quando um clínico geral deixará a instituição.
“Até novembro de 2017, conseguimos às custas de troca de jornada por plantões e bancos de horas, completar o número de plantonistas no pronto-socorro da Clínica Médica com o número ideal de dois plantonistas por período”, diz o texto, enviado à Superintendência do HU em 17 de novembro.
Segundo a carta, a média de dois plantonistas não poderá ser cumprida a partir de dezembro, com a saída de um médico, o que impossibilitaria a permanência do serviço. “Frente a essa situação, vimos por meio desta informar que o pronto-socorro da Clínica Médica não conseguirá manter-se em funcionamento a partir de dezembro de 2017, devendo permanecer fechado como o ocorre com o pronto-socorro da pediatria”, diz o texto, referindo-se ao fechamento do setor infantil, ocorrido na terça-feira, 21.
Segundo o médico Gerson Salvador, o HU enfrenta “mais um capítulo da crise que começou em 2014”, ano em que funcionários do local chegaram a entrar em greve contra a falta de reajuste salarial, além de demissões. “Estamos sobrecarregados. Os médicos estão chegando ao seu limite e não se sentem respeitados pela direção. Isso impacta na qualidade do nosso atendimento”, diz ele, que integra a diretoria do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp).
Como exemplo, Salvador relata ter feito plantões noturnos, de 12 horas cada, no sábado, 18, e no domingo, 19, o que repetirá na noites desta quinta-feira, 23, e sexta-feira, 24. Além disso, trabalhou em turno normal na terça-feira, 21, e na quarta-feira, 22, em período que varia de seis a 12 horas de trabalho. “O nosso contrato é de 24 horas de trabalho mais um plantão por semana, isso está em desacordo com o que vem acontecendo”, declara.
De acordo com ele, o número de médicos para atender a Unidade de Terapia Intensiva, a enfermaria e o pronto-socorro caiu de 74, em 2014, para 35. “Nós queremos o hospital funcionando plenamente, mas não há número suficiente para isso, estamos em uma escala mínima”, afirma.
Além da falta de médicos, Salvador aponta haver também carência de funcionários de enfermagem, nutrição, serviço social e no setor administrativo. “A estrutura do hospital é muita boa. A crise é de falta de recursos humanos. Os pacientes que entram hospital ainda têm um tratamento excelente”, garante.
O médico afirma que uma paralisação de atividades não está prevista, como já ocorre com os estudantes de Medicina da USP, em greve desde 10 de novembro. “A nossa opção é manter o hospital funcionamento minimamente, mas nós apoiamos os estudantes”, diz.
Formado em Medicina pela USP em 2002, ele alega que o ambiente do local está “muito diferente” e “cada vez mais pesado”. “Era outro hospital. O projeto do HU está sendo destruído pela administração da USP.”
Situação. Na quarta-feira, a Prefeitura de São Paulo informou que USP está inadimplente com o Município, o que inviabiliza a contratação de médicos para o HU. O convênio era a principal aposta da reitoria da instituição para recompor o quadro de servidores e retomar os atendimentos. Em 2016, uma vistoria do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) já havia notificado sobre falta de médicos no local.
Procurada, a reitoria da USP não se posicionou sobre o assunto. Já a Faculdade de Medicina da USP comentou apenas sobre a greve dos estudantes. “A FMUSP está envidando todos os esforços para manter a qualidade e formação de seus estudantes em estágios práticos utilizando o sistema Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e outras entidades associadas”, informou por meio de nota.