Rio de Janeiro – O Ministério Público Federal investiga o médico Joaquim Ribeiro Filho, do Hospital Universitário da Ilha do Fundão, acusado de burlar a lista de espera de transplantes de órgãos para desviar um fígado que seria destinado a um paciente do Hospital do Fundão, para transplantá-lo em outro paciente da Clínica São Vicente, na Gávea, da rede privada de saúde.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, responsável pelo controle da lista de transplantes, o médico teria se utilizado de meios próprios para transportar o fígado de Minas Gerais para um paciente da clínica privada no Rio.
Segundo o subsecretário Jurídico da Saúde do estado, Pedro Henrique Palheiros, tanto o médico como a equipe envolvida no transplante correm o risco de terem seus registros profissionais cassados: "A punição pode ser o descredenciamento da equipe envolvida ou somente do médico, caso seja constatado que somente ele é culpado".
Além disso, segundo Palheiros, como funcionário público, o médico pode sofrer sanções administrativas. "Paralelamente a isso, o caso foi oficiado aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, já que o desrespeito à lista de espera de transplantes configura um crime, previsto na Lei de Transplantes."
Palheiros afirmou ainda que o médico sofreu punição cautelar, com afastamento dele e de sua equipe médica por 60 dias desde esta quinta-feira (27). O médico Joaquim Ribeiro, contudo, conseguiu revogar no mesmo dia o afastamento e já trabalha normalmente, assim como sua equipe médica.
Ribeiro alega que tudo não passa de perseguição por parte do secretário estadual de Saúde, Sérgio Cortes, que teria se iniciado desde que os dois começaram a trabalhar juntos, há quatro anos. "Fizeram uma punição cautelar mentirosa, inconstitucional e que foi cassada pela Justiça", afirmou.
A Secretaria de Saúde disse que não há perseguição contra o médico, que foi apenas suspenso de maneira preventiva até que seja constatada sua culpa ou inocência.
Segundo a Justiça Federal, outro processo contra o médico ainda corre nos tribunais desde 2003, no qual ele é acusado também de burlar a lista de transplantes. O médico justificou esse outro processo dizendo que faz parte da mesma perseguição da Secretaria de Saúde. A Justiça Federal declarou que o processo aguarda apenas sua sentença final.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou hoje que situações como as investigadas são "absolutamente incomuns". "Aliás, não se pode sequer imaginar que isso seja verdade, se for verdade é uma coisa extremamente grave e que tem que ser punida com muito rigor", disse ele.
"Eu colocaria ressalvas nessa denúncia. Ela tem que ser apurada e confirmada. Se confirmada, punição rigorosa tem que ser feita contra esse profissional. Você pode ter certeza de que, se isso aconteceu, foi um evento absolutamente isolado que não tem impacto nenhum do ponto de vista dos transplantes realizados no Brasil."