Aos olhos ocidentais, a medicina chinesa é uma combinação natural de ervas e agulhinhas milagrosas. Um tratamento alternativo, utilizado por curiosidade ou como última tentativa, quando nada mais faz efeito. “Se não der resultado, mal não faz!” Grande equívoco.

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Até mesmo o aparentemente inofensivo ginseng, vendido em cápsulas em qualquer farmácia ocidental, não pode ser consumido indiscriminadamente – pode piorar casos de pressão alta, por exemplo.

Como qualquer tratamento mal administrado, a medicina chinesa pode aprofundar o problema, alerta o médico Ahmed El Tassa, diretor médico da Global Doctor na China – rede australiana que tem seis clínicas na China voltadas ao atendimento de estrangeiros.

O aviso vale para aqueles que ainda pensam que medicina chinesa é folclore.

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O paranaense El Tassa se formou em medicina no Rio Grande do Sul, fez especialização em acupuntura no Rio de Janeiro, e veio para a China há 17 anos para aprofundar conhecimentos em medicina chinesa. Foi o primeiro ocidental a ingressar na Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Pequim e o único a se tornar mestre no livro Medicina Interna do Imperador Amarelo a mais antiga publicação de medicina do mundo, com três mil anos, de autor desconhecido.

Para quem acha que medicina chinesa é coisa de natureba, El Tassa garante que a formação básica dos médicos é a mesma na China e no Ocidente. A diferença fundamental está na visão do paciente.

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Para a medicina chinesa, e todas as outras formas de medicina tradicional, corpo, alma e espírito não podem ser dissociados.

A medicina moderna separa o corpo da alma e do espírito. Se você vê o ser humano apenas como um corpo, está vendo como uma engrenagem sem vida, resume.

Acreditar nisso não depende de fé, mas de lógica, garante o médico. Ele recorda que quando começou a estudar medicina, em 1981, nunca se falou em qualquer relação do cérebro com o intestino. Isso foi descoberto há pouco tempo pela medicina moderna, e está lá, descrito há três mil anos, no livro de Medicina Interna do Imperador Amarelo.

El Tassa conta que a medicina tradicional também era praticada no Ocidente até o século 18. A medicina moderna deixou a alma, a psique, para os psicólogos, e o espírito, o intelecto, para os filósofos, lamenta.

O objetivo da medicina moderna ocidental é salvar o paciente, enquanto o objetivo da medicina tradicional é melhorar a qualidade de vida dele, frisa.

Ainda assim, o médico recomenda que, antes de mais nada, o paciente procure um especialista. Se ele disser que não tem solução, não acredite e busque um médico que também tenha formação em medicina chinesa, aconselha.

O mesmo, segundo ele, vale caso o problema volte de forma recorrente após o tratamento convencional. Tem solução para tudo menos para a morte, que é natural, e para impedir o envelhecimento, garante El Tassa.

Uma curiosidade: enquanto os ocidentais despertam para a medicina chinesa, os chineses, cada vez mais, preferem a medicina moderna ocidental. Pessoas com mais de 40 anos, com problemas crônicos, ainda buscam a medicina tradicional. Chineses com até 35 anos nem piscam, diz o médico: querem antibiótico, cirurgia e corticóide.