Um dia após a Polícia Federal (PF) ter indiciado dois professores pelo vazamento do tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, o Ministério da Educação (MEC) afirmou ontem que não vê indícios de que tenha ocorrido a divulgação. O ministério manteve para 15 de dezembro a reaplicação parcial do exame, só para os casos que constam nas atas das salas onde as provas foram feitas.

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“O sigilo do tema da redação foi mantido, uma vez que a professora indiciada pela PF repassou o título de um dos textos motivadores: ‘O que é o trabalho escravo’. O tema da prova era ‘O trabalho na construção da dignidade humana'”, afirmou o ministério, em nota. Para professores e estudantes da região de Petrolina (PE), onde, segundo a PF, teria ocorrido o vazamento, a situação é diferente: eles acreditam que o caso não foi isolado e mais alunos tiveram acesso a outras partes da prova antes de sua realização.

A própria investigação da PF dá margem a especulações. Segundo o delegado Márcio Alberto Gomes, um caderno especial de questões – chamado caderno ampliado (feito em dimensões maiores que os entregues aos estudantes) – foi violado pela coordenação de aplicação da prova no Colégio Ruy Barbosa, em Remanso (BA), cerca de duas horas antes do início da prova.

A PF indiciou o casal de professores Marenilde de Brito Affonso e Eduardo Ferreira Affonso por violação de sigilo funcional qualificado (por ter causado prejuízo à administração pública e a outras pessoas), crime cuja pena pode ir até seis anos de prisão. Segundo a secretária de Educação de Remanso, Veraneide Almeida, os dois têm pelo menos 15 anos de magistério. “Não dá para entender um fato desses.”

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Filho do casal, Eduardo Ferreira Affonso Júnior, que há três anos tenta entrar em Medicina, não foi indiciado, mas teve a prova desclassificada. A família não foi encontrada para se manifestar.