Brasília – Sob proteção da Polícia Federal desde que resolveu romper o silêncio e fornecer à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios um roteiro sobre suspeitas de corrupção na estatal, o ex-diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material da empresa Maurício Marinho recebe ameaças que chegam de várias formas – abordagens súbitas na rua, telefonemas anônimos e cartas endereçadas à sede da companhia. Uma delas, que será encaminhada à PF, tem um curioso estilo.
"Na Rússia do Czar, você, patife, estaria na Sibéria comendo um quilo de m… por dia", diz o texto, assinado por alguém que se identifica por José Facó, cujo endereço seria em Paranaguá (PR), mas foi postada em Curitiba e endereçada ao edifício sede dos Correios.
Marinho é acompanhado 24 horas por três agentes da PF e tem demonstrado receio de alguma represália dirigida aos familiares. Aos policiais, tem dito que, mesmo não tendo dado nomes de todos os corruptos e corruptores que tinham negócios relacionados ao orçamento dos Correios -R$ 7,6 bilhões anuais – abriu uma "caixa-preta" de onde sairão as revelações que podem promover uma faxina na estatal. A lista fornecida à CPI mostra que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) é um feudo pluripartidário, cujos interesses misturam-se aos de empresários corruptores e funcionários corruptos.
"Ele estava visivelmente nervoso. A gola da camisa estava empapada de suor. Consegui acalmá-lo explicando que, se ele decidisse abrir o jogo e falar a verdade, se sentiria melhor. Ele está com muito medo", conta o senador Romeu Tuma (PFL-SP), que conversou com Marinho no momento mais delicado do depoimento à CPI. Tuma telefonou na hora à PF, e pediu a proteção.