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‘Mataram meu bebê. Ela morreu de uniforme’

O sonho de Duda, como era chamada em casa e pelos amigos, era ser jogadora de basquete profissional. Alta e ágil com a bola nas mãos, ela passava quase o dia inteiro na escola, entre o currículo regular do 7.º ano do ensino fundamental e os treinos esportivos. Descrita como comunicativa e alegre, a menina, xodó da família, por ser a caçula com três irmãos já adultos, foi alvejada durante a aula preferida, a de Educação Física.

“Mataram meu bebê. Ela dormia agarradinha comigo. Tinha sonhos, era uma atleta, uma filha e tanto. Estava na escola dela, um lugar pertinho de casa, onde se sentia feliz. Duda morreu de uniforme”, lamentou a mãe, a acompanhante de idosos Rosilene Alves, de 52 anos.

Com cerca de 700 alunos, a Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza, na qual a menina estudava desde 2015, não é segura. Está localizada em uma área onde confrontos são frequentes. Na semana passada, as aulas foram suspensas por dois dias por causa de tiroteios. Na quinta, os tiros chegaram a atingir a sala da direção.

Segurando a suéter que a menina usava amarrada na cintura ao morrer, que ficou com um buraco feito pela bala, o irmão Uidsom Alves, de 32 anos, instrutor de luta, lamentava a interrupção dos planos da garota. E exibia as nove medalhas ganhas pela irmã no basquete. “Hoje (ontem) tinha competição. Queria ser uma atleta bem-sucedida e tirar a gente da comunidade. A gente não quer que ela vire mais uma na estatística.”

O diretor da escola, Luiz Menezes, contou que a violência rouba um mês de aula do ano letivo – são pelo menos três dias de aulas suspensos a cada mês por tiroteios. “Atiraram numa escola cheia de alunos. É muito tenso trabalhar assim.”

Ele contou que na quinta-feira o turno da tarde começara tranquilo, às 13 horas. O tiroteio foi por volta das 16h20.

Professor de História na unidade, Leonardo Silva disse que Maria Eduarda era uma aluna querida por toda a escola. “Ela irradiava luz, era uma liderança positiva. Vai ser difícil retomar as aulas e explicar aos alunos que a escola, que é para ser um lugar inexpugnável, virou alvo”.

Relatos. Tio de Maria Eduarda, o motorista Anderson Rodrigues, de 41 anos, disse que estudantes contaram que os tiros partiram do ponto onde estavam os PMs. “Como atiram na direção de uma escola às 16h20, em pleno horário de aula? É muita irresponsabilidade”, criticou.

Os disparos fizeram os professores e funcionários se abaixarem onde estavam e gritarem de desespero. Segundo Rodrigues, a sobrinha estava habituada à rotina de violência onde vivia, no Morro da Pedreira, na mesma região da escola, e se assustava quando ouvia tiros. “Moramos numa das áreas mais perigosas do Rio. Nós nos sentimos abandonados pelo Estado”, lamentou.

Coordenador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa defende uma revisão nos procedimentos da PM com o objetivo de proteger inocentes. “Mais importante do que prender o bandido é resguardar a vida dos civis.” A ONG está auxiliando a família no processo que será movido contra o Estado por danos morais.

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