São Paulo (AE) – Depois de 19 anos, três acusados pelo assassinato do missionário jesuíta Vicente Cañas Costa irão a julgamento nesta semana. O crime ocorreu em abril de 1987 em Juína, em Mato Grosso, a 737 quilômetros de Cuiabá, e expôs as tensões fundiárias no oeste do estado, principalmente a luta do missionário pelas terras dos integrantes da etnia enawenê-nawê, um grupo quase isolado do contato com não índios e que ainda não tinha área demarcada ou homologada. Os fazendeiros pressionavam contra a medida.
O júri popular dos três réus que ainda podem ir a julgamento está marcado para hoje no auditório da Justiça Federal de Cuiabá. De um lado, estarão Ronaldo Antônio Osmar, delegado de Juína na época do crime e acusado de intermediar a morte, e os pistoleiros José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva. Do outro, o Ministério Público Federal, que os denunciou por homicídio duplamente qualificado – crime cuja pena varia de 12 a 30 anos de prisão.
Devido à demora no processo, alguns acusados se livraram de ser julgados. Dois fazendeiros denunciados como mandantes pelo Ministério Público, Pedro Chiquetti e Camilo Carlos Obici, morreram. O quarto mandante acusado, o fazendeiro Antônio Mascarenhas Junqueira, não pode mais ir ao tribunal porque tem mais de 70 anos e a ação contra ele já prescreveu.
O julgamento atrai a atenção de entidades indigenistas e de defesa dos direitos humanos, que prometem exigir justiça. O advogado do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e assistente da acusação, Paulo Machado Guimarães, estima que o júri deverá terminar amanhã ou quinta-feira.
A defesa alega falta de evidências e de testemunhas oculares, mas Guimarães diz estar otimista. ?A sociedade espera que o júri perceba a dimensão das acusações?, ressalta.