Marinho diz que senadores e deputados estão atrás de agências franqueadas. |
Brasília – O depoimento do ex-chefe de contratações dos Correios Maurício Marinho na CPI mista dos Correios teve uma reviravolta dramática, na manhã de ontem, depois que seus advogados anunciaram que iam desistir de defendê-lo porque ele não estava falando a verdade. A sessão foi interrompida por cinco minutos.
Na volta, Marinho disse, emocionado, que ia contar tudo que sabia: "É isso o que os senhores querem ouvir? Vamos falar! Vou falar o que os senhores me perguntarem, mas eu preciso e peço uma segurança. Eu tenho dois filhos e um neto e eu fui seguido por mais de uma vez. Eu peço pelo amor de Deus pela segurança da minha família".
Em seguida, Marinho citou uma extensa lista de processos dos Correios que segundo ele são suspeitos e devem ser investigados pela CPI. Acusou o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, de estar por trás de muitos desses processos e disse que grandes empresas estão envolvidas com negócios suspeitos na estatal, entre elas a Xerox e o banco Bradesco.
Marinho disse ainda que devem ser investigadas as agências franqueadas dos Correios, por trás das quais estariam muitos deputados federais e senadores. E afirmou que o foco das investigações devem ser as licitações de alto valor, conduzidas por comissões especiais.
"Solicito levantar o envolvimento dos grandes clientes da ECT, o que pode atingir muitos dos senhores deputados e senadores. E as agências de Correios franqueadas. Qual é o faturamento anual? Qual o percentual em relação ao faturamento da nossa empresa? Que pessoas e parlamentares estão por trás dessas agências franqueadas, faturando milhões de reais por mês, principalmente as de São Paulo?", disse.
Marinho solicitou também que a CPI investigue os contratos com agências de propaganda, nos quais estaria envolvido o ministro Luiz Gushiken. "Solicito investigar os contratos com as agências de propaganda, vinculados à Secretaria de Comunicação do Governo, através do departamento de marketing do ECT. Doutor Luiz Gushiken", disse. A assessoria de Gushiken respondeu que são totalmente infundadas as afirmações de Marinho. O envolvimento de Sílvio Pereira com os contratos citados por Marinho se daria através da Diretoria de Tecnologia dos Correios. Marinho disse que o PT se esforçava para impedir que seu indicado na Diretoria de Tecnologia não fosse substituído por uma pessoa apontada pelo PTB. O ex-funcionário dos Correios disse que todos os contratos de obras de engenharia são geridos por essa diretoria. "Não há uma obra nesse país que não seja coordenada por essa diretoria. É um orçamento de R$ 700 ou R$ 800 milhões por ano", afirmou.
Marinho afirmou também que a Casa Civil foi responsável pela nomeação dos seis principais diretores dos Correios. Marinho também sugeriu que alguns desses negócios suspeitos foram iniciados em governos anteriores aos do presidente Lula. ?Não é um processo que foi feito agora. Não estou vendo se é do governo A ou do governo B", disse.
O depoimento de Marinho terminou ontem às 19 horas, 25 horas depois de seu início. O relator Osmar Serraglio (PR) vai convocá-lo novamente.