Acuado pela Polícia Federal, que lhe atribui envolvimento com o mensalão mineiro e pede autorização judicial para devassa fiscal e bancária em seus negócios, o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, entregou manifestação de 13 páginas à Procuradoria-Geral da República e nela sustenta que não teve participação na arrecadação da campanha eleitoral do senador Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas Gerais, em 1998. Na manifestação, subscrita por seus advogados – os criminalistas Arnaldo Malheiros Filho e José Eduardo de Alckmin -, o ministro admite que pagou dívida do tucano. ?Paguei movido por sentimento de amizade, oferecendo uma ajuda perfeitamente compatível com meu cabedal.
A manifestação é uma defesa prévia espontânea. Com ela, o ministro de Lula pretende esvaziar o relatório da PF, peça de 172 páginas que descreve como operou o mensalão de Minas, e evitar que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, o denuncie criminalmente perante o Supremo Tribunal Federal. ?Pessoas interessadas na manipulação política do caso querem colocar a faca no pescoço do procurador para que apresente logo a denúncia?, suspeita Malheiros Filho. ?A Mares Guia não se imputa fato típico e o que se imputa está devidamente apurado?, assinala a defesa. ?Grande temeridade e injustiça seria, desde logo, envolvê-lo numa denúncia nessas circunstâncias.
A Polícia Federal anexou ao inquérito manuscritos de Mares Guia sobre ?previsões de repasses? a aliados de Azeredo. Segundo a PF ?o ministro participou ativamente? das negociações envolvendo a contratação do publicitário Duda Mendonça, cujo pagamento, de R$ 4,5 milhões, foi suportado com verbas disponibilizadas por Marcos Valério, apontado como carro-chefe do mensalão mineiro e do mensalão do PT.
A defesa classifica de ?subjetivas e vazias as imputações num inquérito ainda inconcluso?. O ministro anexou carta da Price Waterhouse Coopers atestando que o dinheiro que usou para quitar empréstimo de Azeredo no valor de R$ 500 mil saiu de sua holding a Samos. Afirma que foi Azeredo quem indicou número de conta no Banco Rural para o depósito. Alega que somente depois da operação é que soube que a conta era de Valério.