O publicitário Marcos Valério é sócio |
Belo Horizonte – O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza ganhou destaque no noticiário nacional depois de ser apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos principais operadores do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, no pagamento de propina a parlamentares. Ex-funcionário do Banco Central, Valério é sócio de pelo menos dez empresas, nas quais montou um emaranhado de participações acionárias que, ao serem cruzadas, permitem que sua atuação se estenda de forma indireta a outras empresas.
Nos principais negócios – as agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, que têm contas milionárias com o governo federal – a participação de Marcos Valério se dá por intermédio de sua mulher, Renilda Fernandes de Souza. É ela quem detém um terço do capital da SMP&B. Aparece na sociedade na mesma situação de Cristiano Paz e Ramon Cardoso, os outros dois proprietários da agência e que exercem as funções de presidente e vice-presidente da SMP&B.
Já na DNA, a mulher de Marcos Valério entra na sociedade com 50% por intermédio da Graffiti Participações, da qual tem 66,6%, tendo como sócio Ramon Cardoso, dono dos outros 33,3%. Os outros proprietários da DNA são Francisco Castilho, com 25%, e Margareth Freitas, com os 25% restantes.
Na semana passada, depois que o nome de Marcos Valério ganhou o noticiário ao ser apresentado por Jefferson como o homem que teria entregue ao PTB R$ 4 milhões em dinheiro a mando do PT, a DNA e a SMP&B divulgaram notas afirmando que Marcos Valério não exerce funções administrativas, nem interfere na administração das agências. Entretanto, contratos mostram ligações estreitas entre o publicitário e seus sócios, como também a presença marcante de Renilda em outras sociedades.
Na nota da DNA, Valério é apresentado apenas como um representante da Graffiti, a empresa onde sua mulher detém dois terços do capital, conforme o contrato social.
Em Minas, Marcos Valério é um homem conhecido nas altas rodas pelas posses, a paixão pelo hipismo e a versatilidade na área empresarial. Depois que passou a ser apontado como o ?homem da mala? de Delúbio Soares, foi montada uma força-tarefa para tentar descolar a imagem do publicitário das duas agências mineiras. Mas as digitais de Marcos Valério estão em toda parte. O publicitário se afastou do cargo de vice-presidente administrativo financeiro em março de 2003, mas sua mulher ainda tem 66% do capital da Graffiti.
Secretária serviu de laranja para burlar fisco
Brasília – Em julho de 2002, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza quis expandir seus negócios, mas enfrentava problemas com o fisco. Pediu que a secretária de um de seus sócios na agência SMP&B abrisse uma empresa em seu nome. Adriana Fantini fundou então a 2S Participações Ltda., que em setembro do mesmo ano foi transferida ao publicitário e à sua mulher, Renilda Fernandes de Souza. Dois anos mais tarde, em 2004, Adriana voltou a prestar um favor a Valério ao informar-lhe que a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio estava tentando chantageá-lo. Adriana é a principal testemunha no processo por tentativa de extorsão que o publicitário move contra Karina na Justiça de Minas.
Na semana passada, Fernanda Karina apareceu na revista IstoÉ Dinheiro confirmando parte das denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de mesadas a parlamentares. Um dia depois de a revista ter chegado às bancas, a ex-secretária depôs na Polícia Federal e desmentiu as partes mais comprometedoras da entrevista, dizendo que não tinha nada contra o ex-patrão. À Justiça, Karina afirmou que nunca pediu dinheiro ao publicitário, nem tentou prejudicá-lo.
O processo movido contra Karina na Justiça contém documentos que podem reforçar a denúncia de Valério, de que a ex-secretária tentou, de fato, extorqui-lo. Mas, a documentação também oferece indícios de que a ex-secretária poderia ter servido de laranja para o publicitário. É isso que ela sugere num dos bilhetes que deixou para Marcos Valério na sede da DNA.
?Descobri que conseguiram entrar com a minha senha no meu banco e viram o meu saldo, etc. Acho que você deveria saber. Qualquer dúvida me liga que eu te explico melhor, ok. Obrigada?, diz o bilhete de Karina a Marcos Valério.
Alguns meses depois de ser demitida da SMP&B, Karina procurou Valério na DNA Propaganda e como não o encontrou, deixou bilhetes, usados no processo contra ela.
Karina teria telefonado para Adriana várias vezes, na mesma ocasião, e Adriana resolveu denunciar a ex-colega para o chefe.