Marcha não é contra Lula, diz líder do MST

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O ministro Miguel Rossetto reuniu-se ontem com representantes
do MST e da Via Campesina.

Goiânia – A marcha dos sem terra a Brasília não é contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas contra as forças do Estado que impedem a reforma agrária, disse ontem o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Charles Trocate. Segundo ele, o presidente compreendeu a importância da reforma agrária e assumiu o compromisso de assentar 430 mil famílias durante o seu governo. ?Se até agora só assentou 38 mil é porque o Estado é organizado para não atender às necessidades do povo.? O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, reuniu-se ontem com representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e da Via Campesina para tratar da Marcha Nacional pela Reforma Agrária e da entrega de um documento com as principais reivindicações da categoria, na sede do Ministério, em Brasília.

Ontem, no segundo dia da marcha, os mais de 11 mil sem terra percorreram mais 19 quilômetros pela rodovia BR-060, acampando, no final da tarde, entre Goiânia e Anápolis. O acampamento fica a 35 quilômetros do centro de Goiânia. Hoje eles caminham até as proximidades de Anápolis e amanhã chegam ao centro da cidade. A chegada a Brasília está prevista para o dia 16, quando o grupo acampa no Estádio Mané Garrincha. O dia 17, fim da marcha, está reservado para atos na Esplanada dos Ministérios.

Líderes do MST estão negociando a agenda com o governo. Segundo Trocate, o MST decidiu marchar até o Palácio do Planalto, sede do governo federal, para mostrar à sociedade que a reforma no campo é necessária. ?Não sai porque a própria máquina do governo trabalha contra.? Segundo ele, o presidente assinou decreto criando 4.500 novos postos no Incra, mas até agora não foram preenchidos.

Alvo dos manifestantes é a política econômica do governo federal

Brasília – O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Charles Trocate, citou ontem a política econômica como um dos principais adversários dos movimentos sociais. Pela avaliação dele, o presidente Lula está tendo ?dificuldade? para romper com a política de juros altos, como fizeram os presidentes da Argentina e da Venezuela. Ao ser lembrado de que os dois países vivem crises sociais, disse que, pelo menos, tiveram coragem de romper com tutela internacional. ?Queremos que o nosso governo acumule forças internamente para realizar o que prometeu.? Até nas faixas, o presidente era tratado como alguém da ?casa?. Uma delas dizia: ?Lula, meu presidente, queremos terra pra gente?. O MST mobilizou um grande aparato para reduzir o risco de incidentes na maior marcha já feita no País. Foram usados 228 ônibus para o transporte dos sem terra, arregimentados em 23 estados, até Goiânia. Desses, pelo menos 12 estão acompanhado a marcha para transportar as crianças. Oito caminhões-pipa garantem 250 mil litros de água que os manifestantes consomem por dia. Segundo o transportador José Teles, a água está sendo fornecida pelo governo goiano. Ontem os veículos se abasteceram num reservatório da Saneago, a empresa de saneamento básico de Goiânia.

Outros 25 caminhões transportam os alimentos, preparados numa cozinha móvel, os 100 banheiros químicos, os tanques para banho, colchões, material para barracas e as bagagens dos integrantes da marcha. Há ainda uma caminhonete e dois caminhões de som. Num deles está instalada a Rádio Brasil em Movimento, uma rádio comunitária itinerante, que acompanha a marcha. O transmissor, de 100 watts, atinge até três quilômetros, por isso o caminhão viaja no meio da fila. Cada manifestante recebeu um kit que inclui um aparelho de rádio com fone de ouvido. ?Durante as transmissões, eles ficam sintonizados nas mensagens que a gente passa?, conta Camila Bonassa, responsável pela rádio. Os equipamentos foram emprestados pela Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraco). Um grupo de repórteres populares entrevista as pessoas.

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