Manipulação do medo ajuda pesquisa contra traumas

Pesquisadores do Rio Grande do Sul conseguiram ressuscitar medos já superados em ratos. O experimento, descrito na revista científica americana PNAS, lança luz sobre os mecanismos da memória e pode contribuir para a criação de métodos mais eficazes para tratar condições como o estresse pós-traumático. Técnicas de psicoterapia recorrem, com frequência, à criação de memórias capazes de se sobrepor a uma recordação que causa medo.

Terapeutas podem sugerir a uma pessoa com pânico de elevador, por exemplo, que ela se imagine dentro do aparelho: entrando e saindo, subindo e descendo. Dessa forma, tentam habituá-la a uma nova memória – “elevadores são um meio de locomoção seguro” -, capaz de libertá-la da sua percepção primitiva (“elevadores são perigosos”). Os cientistas chamam essa nova memória de memória de extinção.

O problema é que, cessada a terapia, o medo original pode retornar, aponta o neurocientista Martin Cammarota, do Centro de Memória do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e líder do grupo que publicou o trabalho na PNAS.

“A pesquisa procura entender melhor como funcionam as memórias de extinção”, diz Cammarota. “Assim, talvez seja possível melhorá-las para que perdurem mais tempo ou para que a terapia baseada nelas seja mais efetiva.” No experimento com os ratos, os neurocientistas conseguiram realizar a operação inversa: enfraquecer a memória de extinção dos animais (mais informações nesta página) e, dessa forma, fizeram ressurgir o medo.

Cammarota explica que, quando memórias são recordadas, se tornam temporariamente maleáveis e podem ser submetidas a um de dois processos: reconsolidação – uma espécie de atualização com os dados novos da situação que motivou a recordação – e extinção – quando surge uma memória de extinção que enfraquece a recordação anterior.

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