Na última terça-feira, enquanto o crítico literário Antonio Candido pedia “atuem, exagerem, sejam justos e injustos” a centenas de estudantes na Faculdade de Geografia da Universidade de São Paulo, a biblioteca da Medicina também tinha lotação quase esgotada. Era a semana que antecedia as provas finais do semestre. Livros grossos de anatomia, fisiologia, imunologia cobriam as mesas. “Por que mesmo a USP está em greve? Você sabe?”, perguntou ao colega do lado o estudante do 4º ano de Medicina Marcelo Kohara, de 23 anos, ao ser abordado pela reportagem.

continua após a publicidade

A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo percorreu na semana passada as 20 principais unidades da USP da capital, dentro e fora da Cidade Universitária, e também o câmpus de Ribeirão Preto, no interior do Estado. Em praticamente todas, aulas eram dadas, professores preparavam provas, funcionários seguiam com suas funções.

Na USP toda são 104 mil pessoas, entre estudantes, professores e funcionários. Na quinta-feira, o equivalente a 1% desse total, segundo a PM, estava na Avenida Paulista para defender a greve, que começou no dia 5 de maio com o sindicato dos funcionários. Na mesma tarde, no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, por exemplo, alunos saíam de aulas e estudavam para as provas finais.

“Acho que os grevistas querem voltar a uma época que não existe mais. Todo ano é a mesma coisa”, dizia a estudante de Geofísica Natália Costa, de 20 anos, que tinha acabado de assistir a uma aula no Instituto de Física. “Eles deviam pensar em protestos mais inteligentes, sem violência.” Na terça-feira, Carlos Magno, do Sindicato dos Funcionários da USP, havia qualificado os piquetes como “arma histórica dos trabalhadores”.

continua após a publicidade

Do outro lado do câmpus, na Faculdade de Educação Física, um trio de alunos do 3º ano chegava para estudar – eles tinham agendado um encontro com outros colegas para terminar um trabalho por volta das 16h30. “Aqui nunca tem greve”, contou Alessandro Souza, de 22 anos. A unidade encerra o semestre na semana que vem, com a entrega de trabalhos.

No estacionamento da Escola Politécnica, por volta das 11h30 de quarta-feira, véspera do protesto na Paulista, era difícil achar lugar para estacionar o carro. Os calouros Heitor Reis, Leonardo Kakitani e Felipe Romano preparavam uma maquete. “Lá na FFLCH eles têm as disciplinas greve 1, greve 2, greve 3”, brinca Felipe, demonstrando a antiga rivalidade entre Poli e Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

continua após a publicidade