Eles perderam tudo o que demoraram anos para conseguir, foram atacados, saqueados, as mulheres violentadas e todos expulsos do lugar que escolheram para viver. Mesmo assim, garimpeiros brasileiros e trabalhadores que viviam indiretamente da extração do ouro em Albina – a 150 quilômetros de Paramaribo, capital do país – preferem reconstruir a vida no Suriname. E a razão é primordialmente econômica.
Com o baixo nível de escolaridade, sem profissionalização e vindos de cidades com poucas oportunidades de emprego, geralmente no interior do Pará e Maranhão, esses garimpeiros ganhariam no Brasil um quinto do que recebem nos garimpos do Suriname. Dinheiro livre de qualquer tributação no país.
Deniclea Furtado, 34 anos, trocou o emprego de faxineira numa escola de Belém (PA) pela vida incerta no Suriname há 12 anos. No Brasil, recebia R$ 700 em média. “Com os impostos e as despesas básicas de casa, não sobrava quase nada”, diz. No garimpo, ela trabalhava como cozinheira e aumentava a renda com a venda de mercadorias, tirando no fim do mês R$ 3 mil. “Aqui eu vivo melhor.”
Reginaldo Bitencourt, há três anos no Suriname, conta que tem “coisas que nunca iria conseguir” no Brasil. “Tenho minha casa alugada, tenho móveis, televisão. Aqui vivo bem.” Na semana passada, ele embarcou no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que levou brasileiros ao Pará. Mas ele só voltou para tirar novos documentos.
Foi no início da década de 90 que o movimento em direção aos garimpos do Suriname, Guiana Francesa, Guiana e Venezuela se intensificou. Hoje, conforme estimativas do governo, há 18 mil brasileiros no Suriname, país com população de quase 500 mil pessoas. Somando os quatro países, seriam 80 mil brasileiros em busca de ouro.