O julgamento dos envolvidos no assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen virou um embate entre duas mulheres: Suzane von Richthofen, filha das vítimas, e Nadja Cravinhos, mãe dos réus Daniel e Christian.

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As versões das duas sobre o crime e seu contexto foram diametralmente opostas. Mas é a partir delas que os jurados formarão sua convicção sobre o ponto-chave do júri: quem dominava quem no casal Suzane e Daniel e conduziu o planejamento do assassinato.

Se o depoimento de Suzane, na segunda-feira, impressionou pelo raciocínio preciso e discurso bem amarrado, Nadja não ficou atrás da jovem, a quem acusou de ter destruído a vida de seus filhos. Uma mulher, afirmou, pode levar o homem "ao sucesso e à glória, ou à desgraça total". "Foi o que a Suzane fez com meu filho. Manipulando, coagindo, usando seus sentimentos, fazendo dele um instrumento durante todo o tempo que eles conviveram."

Durante o depoimento de Nadja, Suzane balançou a cabeça 13 vezes em sinal de desacordo. A primeira foi quando Nadja insinuou que Manfred e Marísia eram alcoólatras e, quando alterados, agrediam verbalmente os filhos.

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Daniel e Christian choraram muito, assim como a mãe. Vestida de preto, "de luto", disse que perdoou os filhos e a jovem, mas atacou Suzane duramente para tentar conseguir que "cada um só pague pelo que fez".

Interrogada como informante, sem compromisso de dizer a verdade, por ser mãe, Nadja comoveu o público, principalmente quando, autorizada pelo juiz Alberto Anderson Filho, abraçou os filhos em plenário.

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Nesse momento, o advogado e protetor de Suzane, Denivaldo Barni, se colocou entre a jovem e os irmãos, como anteparo. "Não são propriamente mentiras, mas distorções, porque ela (Nadja) vê os fatos como mãe", disse o advogado Mário Sérgio de Oliveira, defensor de Suzane, sobre as declarações de Nadja.

Tiroteio

Ficou evidente que as falas de Nadja, cheias de frases feitas, foram combinadas com o advogado da família Cravinhos, Geraldo Jabur. As perguntas, apenas deixas para o discurso ensaiado, estavam todas num papel lido por Jabur.

Assim como Suzane, que também fez a lição de casa passada pelos advogados, Nadja colocou num contexto favorável todas as informações negativas relacionadas aos filhos. Ela disse que Daniel não só não aceitava dinheiro de Suzane, como emprestava a Andreas, arrancando da moça uma careta de desaprovação.

Declarou que o filho jogou no vaso sanitário parte do dinheiro que pegou na casa dos Richthofen, sem explicar por que a outra parte foi guardada no estabilizador de voltagem do computador.

Segundo Nadja, ela e o marido souberam que Christian não participou do crime um mês após a prisão dos filhos, quando foram visitá-los na prisão. Mas não disse por que Jabur, advogado desde o início, só teria sido informado disso recentemente, como ele declarou à imprensa.

A mulher incomodou Suzane, mais uma vez, ao relatar a conversa que teria tido com o filho sobre o relacionamento sexual dele com a então namorada. "Quando estamos numa relação mais íntima, ela tem reações que não condizem", teria contado Daniel.

Segundo ele, a jovem "se transformava e parecia que não era ele que estava vendo. Entrava em pânico em determinadas horas". Eles pensaram em três motivos para isso: ela tinha sido violentada, maltratada pelo antigo namorado ou mentia.

Mais choro

Até as 19h30, ouviu-se o depoimento de cinco testemunhas. Antes do de Nadja, que começou às 14h40 e terminou 15h45, Daniel chorou duas vezes. A primeira foi quando o ator Sérgio Gargiulo, amigo dele, disse que, ao saber do crime estranhou como alguém que fazia coisas tão minuciosas e delicadas como aeromodelos pudesse ter cometido um crime tão agressivo.

Foi às lágrimas novamente quando o ex-presidente da Associação Brasileira de Aeromodelismo, Alexandre Basílio Torres contou que ele era um atleta de ponta. Algemado, ficou com alguns lenços amassados nas mãos por bastante tempo.

Sentada à direita dele, Suzane desviava o olhar para a esquerda o tempo todo. Mas, quando percebeu o primeiro choro, não resistiu e espiou.

Em um dos momentos em que entraram no plenário, Suzane e Daniel se esbarraram. A jovem teve uma postura corporal mais agressiva, Daniel apenas esboçou uma reação. Em seguida, a cadeira de Suzane foi afastada das cadeiras dos irmãos.

A jovem fica bem perto de Barni e eles conversam bastante. Na maioria das vezes, Suzane responde a perguntas dele Os réus estavam com roupas diferentes dos primeiros dois dias.

Suzane vestia calça jeans clara, blusa creme e bota de camurça bege – igual ao júri de 5 de junho, que foi adiado. Daniel estava de camisa azul e calça jeans e Christian, de camisa xadrez e calça jeans.