A decisão tomada pelo Comitê Olímpico Internacional, que escolheu o Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada de 2016, transmitida para mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, pôs fim a três anos de uma disputa na qual a cidade partiu do descrédito quase total para chegar à final como uma das favoritas. A evolução pode ser explicada por um projeto técnico eficiente, uma apresentação impecável e um comprometimento político comparável apenas à candidatura madrilenha. De acordo com os integrantes do COI, o que mais contou foi o chamado que o Brasil fez à entidade: votar pelo Rio seria “optar por um novo caminho no movimento olímpico, universalizar os Jogos e desfazer as injustiças das últimas décadas”.

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A soma dos fatores foi recompensada pelos delegados do COI, que reconheceram a força de dois argumentos, um racional, outro emocional: o desempenho econômico correto do Brasil, iniciado nos anos 90, e o fato de representar o subcontinente até então marginalizado, o que contrariava o espírito de universalidade dos Jogos Olímpicos. “A mensagem é clara”, afirmou o belga Jacques Rogge, depois da revelação da vitória brasileira. “Escolhemos um argumento extremamente valioso: o de irmos pela primeira vez a um continente que nunca tinha realizado Olimpíada, e eu acho que essa é uma importante decisão.”

A zebra teve de derrotar os gigantes. A primeira vitória do Rio foi construída sobre a favorita nas bolsas de apostas, Chicago, cuja candidatura foi defendida durante a manhã por ninguém menos que o presidente Obama. Com a adesão em massa dos eleitores da cidade norte-americana, o Rio virou sobre Madri, eliminando Tóquio no segundo turno e alcançando uma vitória esmagadora.

Além de todos os significados simbólicos, o Brasil repetirá o feito realizado pelo México nos anos 60, pela Alemanha nos 70 e pelos Estados Unidos nos 90 e será sede da Copa e da Olimpíada em apenas dois anos. O desafio é reconhecido como “imenso” pelo governo brasileiro. “O que o COI decidiu hoje vai aumentar a nossa responsabilidade enquanto brasileiros, nós temos consciência do que é preciso fazer”, comentou Lula. “A palavra de ordem agora é trabalho, trabalho, trabalho.”

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A repercussão da conquista brasileira foi grande entre personalidades de todo o mundo. “O Brasil não pode perder essa oportunidade para mudar a história do País”, afirmou o príncipe Albert, de Mônaco, integrante do COI. “Uma realidade como essa não ocorre para um povo com muita frequência, o Brasil tem a chance de mudar seu destino,” finalizou. “Era o momento do Brasil, a votação foi lógica”, afirmou o presidente do governo espanhol, Jose Luis Zapatero, bastante decepcionado com a derrota de Madri.