No último Café com o presidente do ano, programa produzido pela Radiobrás e que vai ao ar no rádio amanhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará que vai criar em 2004 os empregos necessários para fazer a política de distribuição de renda. Ao prometer mais iniciativa do governo nessa área, Lula atacará um dos setores em que, para o governo, houve poucos avanços em 2003. 

No programa, gravado no início da semana passada, Lula lembra as medidas duras adotadas durante o ano, dizendo que foram tomadas para poder dar ao povo melhores condições de vida. Segundo Lula, hoje todo o governo tem muito mais experiência, adquirida nos 12 meses iniciais, quando todos ?sofreram muito?.

Mas, às vésperas do Ano Novo, o presidente vai mandar uma mensagem para tranqüilizar a população. No programa, que tem o formato de entrevista, ele afirma que está tranqüilo e que os indicadores econômicos mostram que a economia está se recuperando. Lula garantiu que a capacidade de investimento do Estado também vai aumentar.

O presidente diz que está muito mais otimista do que em qualquer outro momento de sua vida. Lembrou ainda que recebeu votos para mudar o Brasil, mas que, quando assumiu, foi surpreendido pela constatação de que o governo precisava consertar o Brasil. Para explicar a necessidade das medidas adotadas pelo governo, o presidente voltou a citar o exemplo da vacina. Segundo ele, o remédio amargo foi dado para garantir o futuro do povo brasileiro, como uma mãe faz com um filho.

No que pode ser o seu último pronunciamento oficial do ano, o presidente agradece ao povo brasileiro e diz que, mesmo com desemprego, sem dinheiro e sem poder comprar o que quer, os brasileiros acreditam num futuro melhor. Ele lembra que o seu governo representa essa esperança.

O programa Café com o presidente vai ao ar a cada 15 dias, nas manhãs de segunda-feira. A entrevista é transmitida pela Rádio Nacional de Brasília e pelas emissoras do sistema Radiobrás, sob a supervisão da Secretaria de Comunicação da Presidência.

O documento preparado pelo Planalto para o balanço sobre o primeiro ano de Lula admite que o desemprego cresceu e a renda média dos trabalhadores brasileiros caiu. Segundo o IBGE, em outubro a renda média caiu 15% na comparação com o mesmo período do ano passado. O desemprego chegou a 12,9%.

Muito discurso e pouca prática

Muitos discursos (277 até o dia 23), painéis gigantes, cerimônias no Palácio do Planalto, vídeos elaborados, panfletos e revistas com o resumo das realizações. Essa foi a parte mais visível da área social do governo Luiz Inácio Lula da Silva neste primeiro ano. Abaixo da superfície, vários programas empacaram e as metas não foram cumpridas.

Treze ações e programas anunciados pelo presidente da República com grande visibilidade ficaram longe de atingir os objetivos prometidos. O principal marco da era petista, o Fome Zero, teve um início atabalhoado, desde a sua concepção até a execução do programa. Acabou se revitalizando nos últimos meses do ano, depois de ser reestruturado pelo governo.

Apesar de haver um gasto anual de aproximadamente R$ 1 bilhão com propaganda em órgãos federais, o governo não divulga uma tabela simples com os números prometidos e os resultados alcançados. Quem quer saber o que aconteceu deve buscar informações em várias fontes, ler mais de cem discursos, cruzar as promessas com os resultados e fazer um cálculo do que foi realizado.

Emprego

O caso mais dramático é o do desemprego – área apontada como o principal problema do país por 41% dos eleitores, segundo pesquisa Datafolha deste mês. Em 30 de junho, Lula fez uma grande cerimônia no Palácio do Planalto para anunciar o programa Primeiro Emprego. ?Gerar empregos para todo o povo brasileiro é um sonho, uma obsessão e uma determinação do meu governo?, disse o presidente em seu discurso. Diferentemente de outros temas que foram enviados ao Congresso por meio de medida provisória, esse programa foi um projeto de lei. A sanção só se deu em 22 de outubro.

A meta do Primeiro Emprego era criar, neste ano, 137.600 vagas para jovens que nunca haviam trabalhado – dando incentivos às empresas que produzissem esses postos de trabalho. Segundo a revista A mudança já começou, editada pelo governo com algumas informações esparsas sobre realizações lulistas, ?22 mil vagas já estão sendo oferecidas por grandes empresas?. Como o verbo usado está no gerúndio, não é possível saber o número exato. Ainda assim, essas 22 mil vagas representam apenas 15,99% do prometido

O arrocho econômico imposto pela necessidade de atender as metas oferecidas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) impediu também que outras promessas fossem cumpridas.

Passagem de ano em Brasília

A assessoria da Presidência confirmou ontem a informação de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que passou o Natal em seu apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, retorna hoje à tarde a Brasília, onde acompanhará as festas de Réveillon.

A informação sobre a permanência de Lula em Brasília no Réveillon havia sido dada pelo empresário Juno Rodrigues da Silva, o Gigio, que visitou o presidente em seu apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Gigio, que conhece Lula desde a época em que o presidente era sindicalista, saiu do apartamento dizendo que Lula desistiu da oferta de passar o Réveillon na Bahia e que deve retornar a Brasília hoje.

Lula, que está em companhia de dona Mariza, não tem compromissos oficiais previstos para este fim de semana. Um grupo de alunos da Fundação Santo André, que administra uma faculdade na região, fez um protesto em frente ao apartamento do presidente pedindo a federalização da fundação. Eles reclamam da demissão de seis professores que denunciaram a existência de irregularidades na administração da entidade.

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