Lula volta a condenar as ações da CPMI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou ontem a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios e afirmou que é "um absurdo" a conclusão de que o PT foi beneficiado em 2004 por R$ 10 milhões oriundos do Banco do Brasil (BB).

Ao falar rapidamente com a imprensa, pouco antes de ingressar nas sessões de debates da IV Cúpula das Américas, Lula insistiu que há "denuncismo vazio", embora não tenha contestado diretamente nenhuma das inúmeras evidências reunidas pela CPMI a respeito da operação financeira. O presidente repetiu várias vezes, como se fosse um mantra, a máxima de que é preciso apurar a fundo as denúncias, para condenar ou absolver, apenas depois de encontradas as provas.

"O que nós precisamos, no Brasil, é parar com o denuncismo vazio e com insinuações que são desmentidas no dia seguinte. Acho que as apurações estão sendo feitas. Elas serão feitas. É inexorável que elas serão feitas. Ou pelas CPMIs ou pelo Ministério Público ou pela Polícia Federal ou pelo banco", afirmou, ao ser questionado se estava ciente do ingresso de recursos do banco oficial nos cofres petistas. "O que eu acho prudente é as pessoas não acusarem ninguém, nem do PT nem de outro partido político, nem absolverem sem antes ter a prova final do processo. Senão, nós ficaremos execrando instituições e personalidades antes de a gente apurar."

Lula voltou a repetir que, na condição de presidente da República, não pode "nem absolver nem condenar" por antecipação e que permanece na "expectativa" do resultado das apurações da "verdade mais absoluta". Acabou por confidenciar que ao presidente não cabe fazer "declarações intempestivas" sobre tais episódios. Suas observações sobre o caso, entretanto, o colocaram em sintonia com as versões de repúdio à conclusão do relator da CPMI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disparadas por todos os envolvidos no caso, o BB, o banco BMG e o próprio Marcos Valério.

As evidências reunidas pela comissão indicam que os R$ 10 milhões do BB acabaram no PT, numa operação intermediada pela DNA, agência de publicidade do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Lula, entretanto, argumentou que as instituições brasileiras mostram-se sólidas e em funcionamento da "forma mais democrática possível", depois de cinco meses pelos processos de investigação das três CPMIs em curso no Congresso, as dos Correios, do Bingo e do Mensalão.

Mas voltou a insistir que os culpados terão de ser punidos com o rigor da Justiça – desta vez, sem mencionar o seu bordão "doa a quem doer". "Quem cometeu irregularidades terá de ser punido de acordo com a lei. Esse é o nosso desejo, é o nosso trabalho. E vamos fazer isso com tranqüilidade", afirmou". "Ou eu aguardo o resultado final, acredito nas instituições que estão trabalhando e depois disso me pronuncio ou posso cometer injustiças com os outros e não posso me queixar dos que cometem injustiças comigo."

Se respondeu com facilidade à conclusão da CPMI sobre o financiamento da corrida eleitoral petista em 2004 com recursos públicos, o presidente Lula preferiu esquivar-se de enfrentar a denúncia de que o Ministério da Justiça teria criado obstáculos ao acesso da Polícia Federal a documentos sobre o esquema do mensalão e as movimentações bancárias do publicitário Duda Mendonça, o marqueteiro das últimas campanhas do PT, no exterior. Mas, imediatamente, saiu em defesa do titular da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

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