Uma campanha que não acaba. Nove dias após a vitória, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reviveu hoje, sob o olhar preocupado dos policiais federais que cuidam da sua segurança, o clima da disputa eleitoral, marcado pela proximidade de eleitores que faziam questão de cumprimentá-lo, abraçá-lo e até beijá-lo.

Em mais de oito horas de compromissos, o presidente foi aclamado aos gritos, provocou alguns engarrafamentos e até assistiu a trocas de empurrões entre fotógrafos que disputavam o melhor ângulo e curiosos que queriam vê-lo de perto.

“O povo do Rio é um povo especial”, declarou, ao sair do seu primeiro compromisso, um encontro, na residência do economista Celso Furtado, em Copacabana, com o dono da casa e a também economista Maria da Conceição Tavares. Àquela altura, estava cercado por cerca de 20 pessoas, que gritavam o seu nome, pediam autógrafos aos berros, lhe davam crianças para beijar.

Ao som de gritos de “Lula, Lula”, o presidente levou onze minutos – das 12h34 às 12h45 – para vencer os seis metros que separavam a portaria do prédio do carro. Do outro lado da rua, em cima de um muro, o porteiro Fernando Silva, de 36 anos, com uma filmadora, registrava tudo. “Filmo todo dia”, contou.

Moradores do edifício, numa rua de pouco trânsito, tinham se aglomerado do lado de dentro da portaria, para esperar o petista. Quando ele saiu do elevador, com Furtado e Conceição, foi coberto com uma bandeira vermelha do PT. Pouco antes de partir, foi abraçado pelo dançarino Carlinhos de Jesus. “Quero dançar para a vitória”, disse Carlinhos. “Então, vamos fazer”, respondeu Lula. “Estou muito emocionado, meu irmão, muito emocionado”, tornou o dançarino.

O clima festivo, contudo, começara antes. Já no Aeroporto Santos Dumont, onde desembarcara do jatinho, vindo de São Paulo, o presidente foi agarrado por Viviane Pereira da Silva, de 23 anos, funcionária de uma empresa de limpeza, que lhe deu dois beijos.

Lula a abraçou. Quando os fotógrafos pediram à eleitora que o beijasse de novo, o presidente riu. “Assim, não saio daqui”, declarou. O presidente avisara que viera ao Rio para uma visita de agradecimentos – além de Furtado e Conceição, foram visitados o jurista Evandro Lins e Silva, a viúva do intelectual Sérgio Buarque de Hollanda, Maria Amélia Buarque de Hollanda, o jurista e escritor Raymundo Faoro e o ex-líder comunista Apolônio de Carvalho, um dos fundadores do PT.

Confusão

O tumulto da porta do prédio onde mora Furtado, porém, ficou pequeno diante da confusão que se armou na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, na porta do edifício onde mora Lins e Silva. Atraídas pela aglomeração de repórteres, mais de cem pessoas se postaram junto à portaria. “É tudo que eu queria de um presidente: simpático, não mudou nada desde o início da campanha”, disse Selma Rodrigues de Oliveira, de 33 anos, que falou com Lula quando ele chegou. Ela levara o filho, Lyniker Smith Rodrigues, de nove anos, para ver o presidente. “Qual é o seu time?”, perguntou Lula ao menino, ao chegar. Por sete minutos, a avenida parou.

Depois de uma visita a Faoro, que está internado há cerca de um mês no Hospital Copa D?Or, o presidente foi para o apartamento de Maria Amélia, também em Copacabana. Cerca de 30 pessoas, entre elas praticamente toda a família Buarque de Hollanda, estavam lá, além de Frei Betto e o cineasta Nelson Pereira dos Santos. De Paris, o cantor Chico Buarque telefonou para o presidente. “Foi muito fraterno, uma troca de idéias e abraços”, relatou o deputado Chico Alencar, que participou da reunião. “O Lula não está inebriado pela vitória, mas alegre, o que é bem diferente.”

O dia de visitas de agradecimento do presidente acabou no Leblon, no apartamento de Apolônio. Lá, recebeu um cartão postal gigante, de dois por três metros, com mais de 120 mensagens manuscritas de eleitores, e recordou os primórdios do PT. Emocionado, o ex-líder comunista, que é veterano da Guerra Civil da Espanha e da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial, disse que pela primeira vez via um homem do povo chegar à Presidência, e isso o comovia muito. Já Lula lembrou quando levou Apolônio pela primeira vez a São Bernardo do Campo (SP).

“Bom, Apolônio, eu aprendi com você que, quanto mais velho, mais sábio”, declarou Lula, que também se encontrou com o ex-presidente de Portugal, Mário Soares, e tinha um encontro programado com a governadora Benedita da Silva (PT), à noite. “Daqui a três anos, entro na terceira idade. Espero que você continue como meu conselheiro.”

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