Foto: Agência Brasil |
Lula: série de notícias negativas na área econômica, principal trunfo do governo, está causando apreensão ao presidente. |
A menos de um mês das eleições, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se depara com uma série de notícias negativas na área econômica. O crescimento pífio de 0 5% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, a queda na renda e na oferta de empregos e uma greve na Volks no ABC, reduto eleitoral de origem do PT, diminuíram a empolgação no Palácio do Planalto com o amplo favoritismo de Lula nas pesquisas, embora não chegue a causar preocupação com transferência de votos.
Mas nenhuma notícia causou mais constrangimento, segundo assessores do governo, como a estimativa de corte de funcionários das Casas Bahia, empresa usada como símbolo pelo presidente nos discursos positivos sobre a economia. Em abril, Lula esteve na inauguração de um depósito da maior rede de lojas de eletrodomésticos e lojas do País, em São Bernardo do Campo.
Num discurso de mais de 20 minutos, ele fez uma associação entre o empreendimento do empresário Samuel Klein com a política econômica do governo e o futuro do Brasil. ?Estou convencido de que vai acontecer neste País o mesmo que aconteceu nas Casas Bahia?, disse o presidente, que se colocou como garoto-propaganda. ?Embora não seja presidente das Casas Bahia, seja presidente do Brasil, a minha concepção de tratamento deste País é a concepção que o senhor teve de estabelecer a sua parceria com a parte pobre da população?, afirmou à época.
Nesta semana, além do resultado inesperado do PIB, Lula foi informado das demissões nas Casas Bahia, que previa oferecer dez mil novos empregos e, agora, já estima um corte de dois mil trabalhadores neste ano, e nas montadoras da Volks. O governo, no entanto, mantém-se firme, especialmente junto ao eleitorado de baixa renda, que conta com o aumento do salário mínimo e dos gastos com o Bolsa Família. Por isso, não há motivo de preocupação, segundo assessores.
Na reta final do processo eleitoral, as notícias ruins na área econômica viraram munição nas entrevistas dos adversários. ?Embora sirva para a oposição, a notícia do PIB pífio não terá efeito eleitoral?, avalia o historiador Marco Antônio Villa, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos. ?A eleição já está decidida, e tudo indica que em primeiro turno. O efeito eleitoral parece nulo.?
Villa diz que, se fosse em outro momento, as notícias ruins na área econômica seriam ?bombásticas? e poderiam mudar o rumo do processo eleitoral. Afinal, avalia o historiador, uma notícia ?trágica?, como o inesperado resultado do PIB, mostrou que as projeções do governo e de ?todos? os consultores estavam equivocadas.
Na avaliação do historiador, autor de uma biografia do presidente João Goulart – Jango: Um perfil (1945-1964) -, a tendência é que o debate sobre crescimento econômico seja transferido para 2007, quando o governo enfrentará um novo Congresso. ?O que é muito ruim, pois ficaremos pelo menos seis meses parados discutindo essa questão econômica?, afirmou. ?A notícia do PIB de 0,5% é a que todo candidato de oposição gostaria de receber, mas não terá efeito eleitoral?, acrescentou ?(Geraldo) Alckmin está muito atrás nas pesquisas.?
O historiador ressalta ainda a falta de propostas de crescimento econômico nesta eleição. ?Hoje, o debate econômico está paupérrimo e não empolga?, disse. ?Estamos vendo uma geléia geral de partidos, com as mesmas práticas políticas, com candidatos escolhidos por poucos e com idéias absolutamente conservadoras no campo econômico?, completou. ?Não surgiu idéia ousada que tenha viabilidade econômica.?